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Trek to Yomi: vale a pena?

Jogo foca em uma experiência cinematográfica que honra o legado do cineasta Akira Kurosawa

por Raphael Batista
Trek to Yomi: vale a pena?

Não há muitos jogos no mercado que destacam a história dos samurais. Ghost of Tsushima, Nioh e Sekiro: Shadows Die Twice são os mais recentes desta temática, sendo que os dois últimos não estão preocupados em narrar a moral do “bushido“.

Trek to Yomi, por outro lado, chega com esse intuito: demonstrar artisticamente a cultura japonesa e o caminho dos samurais. Sua história é bastante simples, mas não deixa de revelar as nuances de uma jornada de honra e superação. Embora seu gameplay seja muito repetitivo, a construção artística dos cenários e dos inimigos contribuem para uma experiência cinematográfica.

O título criado por Leonard Menchiari e publicado pela Devolver Digital é uma viagem às produções de cinema dos anos 50 e 60. É como se o game fosse produzido pelo próprio cineasta Akira Kurosawa, o principal nome na criação de filmes de samurais.

A honra e a dor andam juntas

Em Trek to Yomi, os jogadores acompanham a vida de Hiroki, um jovem samurai que faz de tudo para proteger as pessoas que ama, porém, enfrenta inimigos cruéis que as tiram dele. Movido pela vingança e pela dor, o samurai aprende como o caminho do bushido exige superação, transformação individual e um auto-controle singular.

Não espere por um enredo com reviravoltas ou momentos de arrancar o suspiro. O título apresenta uma história bem previsível e não há um desenvolvimento dos personagens. Todo o universo já está estabelecido e não há detalhes da origem dos inimigos de Hiroki, as etapas de seu crescimento ou como ele se apaixonou por sua amada Aiko.

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A infância de Hiroki é brevemente mostrada no game. Fonte: Raphael Batista.

Durante o game, os colecionáveis auxiliam no processo de aprofundamento da lore do game. Porém, esse elemento denuncia um dos defeitos gerais de Trek to Yomi: ele é bastante superficial caso o jogador não se interesse em buscar platinar ou concluir nas dificuldades mais elevadas.

Simples e repetitivo

O gameplay do título reproduz um combate fiel dos samurais. Ao apertar as sequências de triângulo ou quadrado, é possível realizar combos específicos com atributos diferentes. Apertar repetida e rapidamente o quadrado resultará em ataques rápidos, mas ao mesclar com o triângulo dá para fazer movimentos especiais.

As mecânicas são fáceis de aprender e, ao longo do game, o protagonista coleta novos ataques e até alguns acessórios de uso rápido para os combates. Contudo, embora haja uma grande variedade de movimentos, eles não são necessários para a vitória. Durante o período de testes, um único combo foi utilizado do início ao fim do game: quadrado, quadrado e triângulo, realizando uma execução final mortífera.

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As mecânicas de combate são bem simples no game. Fonte: Raphael Batista.

Acontece que Trek to Yomi oferta combos, acessórios e novos movimentos, mas pouco incentiva o uso deles. Não é como Ghost of Tsushima quando era necessário mudar a postura da katana ao ver um inimigo carregando uma lança. No jogo da Devolver, é possível vencer todos os desafios usando os mesmos ataques, denunciando a superficialidade do combate.

Além disso, a baixa variedade de inimigos também contribui para a sensação fadigosa de repetição. Basicamente, os jogadores encontrarão três tipos de adversários (equipados com uma katana, ou uma arma a distância, ou uma lança). Embora os designs deles sofram algum nível de alteração durante o game, eles seguem um mesmo padrão até o final.

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Exceto pelos chefões, todos os inimigos possuem comportamentos bem padrões. Fonte: captura de tela.

Pouco atrativo para quem não quer platinar

Trek to Yomi possui apenas sua história principal, desenrolada de forma linear do início ao fim. Em cada fase, o jogador passa pelos inimigos básicos até chegar ao único chefão final da área. O procedimento segue o mesmo durante os seis capítulos, e o jogo conta com pouquíssimos puzzles e nenhuma missão secundária. Logo, o título pode não ser atrativo para quem busca só completar a narrativa, pois isso levará, no máximo, seis horas.

Por outro lado, os troféus do game incentivam o jogador a enfrentar os níveis de dificuldade mais elevados e os chefões principais sem levar nenhum dano. São objetivos legais de cumprir que concederão horas adicionais para quem busca valorizar o investimento de R$ 104,90. Além disso, dessa forma, é possível conhecer as três conclusões diferentes, baseadas em escolhas feitas em momentos específicos da aventura.

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O game oferece pouca variedade ao longo da história. Fonte: Raphael Batista.

Digno de cinema

O ponto alto de Trek to Yomi é sua experiência cinematográfica com um visual bastante estiloso em preto e branco. As câmeras fixas permitem ao criador selecionar o panorama que o jogador apreciará e o controle do protagonista pelos cenários é bem intuitivo. É comum, nas transições entre os ambientes, tirar um tempinho para olhar a paisagem e admirar a beleza dos detalhes.

O jogo de luzes e sombras, a fotografia, os closes e encaixes da câmera, todas essas características trabalham juntamente com o gameplay, dando ao jogador uma sensação digna dos cinemas. Em muitas vezes, o combate sobe de nível drasticamente só pelo enquadro feito para absorver o cenário e o campo de batalha.

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Os visuais do game são surpreendentes. Fonte: Raphael Batista.

Aliás, o título parece que foi criado com a intenção de reproduzir as mesmas sensações dos filmes de Kurosawa. Não se trata apenas da estética em preto e branco, mas mostra o drama dos samurais e como são cercados da dor da perda, e também coloca os jogadores em uma posição passiva onde a jogabilidade não tem tanta importância. O que brilha mesmo são os olhos ao se deparar com a estrutura artística muito bem pensada e formada.

Vale uma nota sobre a trilha sonora muito certeira. O uso de instrumentos típicos japoneses e de músicas que refletem a tensão dos combates é um fortíssimo aliado na construção artística do game!

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A composição artística junto com a trilha sonora destacam os pontos fortes do game. Fonte: Raphael Batista.

Trek to Yomi: vale a pena?

O título parece mais preocupado em apresentar uma experiência cinematográfica ou viagem ao tempo do que entregar um jogo. Embora sua composição artística seja de alto nível, elaborada e bem produzida, o game erra na repetição e superficialidade das mecânicas.

A história seria melhor aproveitada se a jogabilidade estivesse afiada, mas as poucas horas de duração dificultam o envolvimento do jogador com o projeto. O fim do jogo poderá extrair um “mas já acabou?”, deixando aquele gostinho de “quero mais”.

Trek to Yomi não é um dos melhores jogos de samurai, no entanto, sua essência representa muito bem as obras clássicas e pela simplicidade de suas mecânicas pode agradar a todos que se aventurarem no caminho do bushido.

Veredito

Trek to Yomi
Trek to Yomi

Sistema: PlayStation 4 | PlayStation 5

Desenvolvedor: Flying Wild Hog

Jogadores: 1

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70 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Composição artística
  • Trilha sonora envolvente
Desvantagens
  • Gameplay muito repetitivo
  • Baixa duração
  • Pouco atrativo para quem não quer platinar
Raphael Batista
Raphael Batista
Publicações: 6.911
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.