NiOh 2: vale a pena?
Jogo consegue aprimorar muitos artifícios do anterior
NiOh 2 apresenta o conto de um herói improvável, fadado ao sofrimento e à dor, mas que tem o poder de tomar decisões capazes de mudar a história. O cenário é o Japão, Século XVI. Os domínios shogunatos estão a beira do colapso. A presença de demônios por toda a região assombra os indefesos e coloca em xeque o poder das famílias. Em meio ao caos, um humano metade Yokai surge e tudo parece desfavorecer o bem-estar.
O novo jogo da Team Ninja e Koei Tecmo chega com as expectativas lá em cima. Afinal, o primeiro título da série conseguiu notas favoráveis e se tornou um dos “queridinhos” dos jogadores hardcore em 2017. E embora a desenvolvedora tenha apostado grande parte da nova experiência no “seguro”, ela também trouxe elementos inéditos que funcionam de modo bastante divertido.
NiOh 2 não tenta expandir ousadamente todo o universo do game, mas consegue explorar mais a fundo a origem de alguns dos personagens. A grande diferença está no cuidado no visual e nas animações, oferecendo um game muito mais impressionante graficamente do que o seu antecessor.
O título promete levar o jogador ao limite de suas habilidades, testando a sua paciência e exigindo muitas horas de dedicação para vencer todos os desafios. É um prato cheio para quem gosta de um jogo desafiador.
Uma história que não é bem do protagonista
A Team Ninja sempre deixou claro: NiOh é um título focado na jogabilidade. Embora tenha um enredo e muitos personagens, a história não possui um grande impacto na experiência. São muitos os fatores que impedem tal conexão entre o jogador e a narrativa de cada um dos heróis ou vilões da trama.
Em NiOh 2, acompanha-se a jornada de um mestiço: metade humano e metade yokai. É uma história sobre o destino e como as pessoas são encarregadas de grandes feitos mesmo com maldições sobre si. O mestiço embarca na aventura de coletar Pedras Espirituais para conseguir dominar o lado demônio, mas acaba se envolvendo em conflitos políticos e numa missão de exterminar o Reino Sombrio.
O pano de fundo é bom, mas a execução é apenas razoável, pois não existe nenhuma identificação com o personagem principal. É um mal de quase todos os jogos que possuem um sistema de personalização: o protagonista não fala, não expressa emoções e não desenvolve a personalidade. O jogador sente estar controlando apenas um boneco que só está envolvido na narrativa porque tem um poder especial.
Tirando isso, ele poderia facilmente ser confundido como um NPC. Não significa que a história é ruim, porém não vai agradar quem procura por conexões profundas ou memoráveis com os envolvidos na trama. Temos o fiel companheiro Tokichiro, que é o melhor personagem de NiOh 2, sendo o alívio cômico e fonte de muitos mistérios.
Como NiOh 2 relata os eventos anteriores ao primeiro título, os jogadores já imaginam que alguma coisa deu errado no fim. E, bem, o mal dos prequels é que o final é sempre previsível. A história segue um roteiro bem definido e não tem preocupação alguma em aprofundar-se em certos momentos. A impressão que fica é que o mundo continuaria o mesmo, com ou sem a existência do protagonista.
Uma jornada extensiva
O enredo se desenrola através de cinemáticas e descrições de missões. Assim como no primeiro título, os jogadores escolhem as missões que desejam no menu. A descrição do objetivo traz detalhes sobre os acontecimentos da região e os objetivos do protagonista. Desse modo impessoal, é muito difícil criar qualquer conexão com o expectador.
Para quem quiser cumprir apenas as missões principais, o game vai levar em torno de 40 a 50 horas. Entretanto, essa média vai depender exclusivamente do nível de habilidade de cada jogador. Completar as missões secundárias e encontrar todos os itens especiais do título custa, no mínimo, cerca de 100 horas de investimento.
NiOh 2 não é um mundo aberto, mas os jogadores possuem a liberdade de revisitar as missões para coletarem os itens deixados para trás ou apenas conseguirem aumentar o nível de XP. No geral, elas têm um único objetivo: encontrar o chefão no final e vencê-lo. Nada de entregar pacotes, criar máquinas ou proteger alguém. O samurai tem apenas o objetivo de destruir todos os demônios e inimigos pela frente.
Com esse formato somado ao enredo previsível, a história de NiOh 2 fica numa área confortável em repetir a mesma fórmula do título antecessor. É uma pena, porque houve momentos legais na narrativa que poderiam servir de inspiração para toda a trama.
Mas vale destacar que, no final das contas, esse nunca foi o atrativo principal de NiOh. Por tratar-se de um prequel, a Team Ninja parece ter se preocupado em apenas explicar certos eventos para ambientar o jogo. A verdade é que NiOh 2 se preocupa em apresentar uma jogabilidade afiada capaz de testar os nervos até mesmo dos mais pacientes.
E ele conseguiu!
Tudo é culpa do jogador!
O primeiro título se tornou famoso por causa da jogabilidade refinada, punitiva, recompensadora e responsiva. Os comandos do samurai eram precisos e os jogadores puderam criar builds, desenvolver habilidades e combinar poderes de várias maneiras.
Felizmente, a Team Ninja não se acomodou neste ponto e conseguiu melhorar o que já era muito bom. NiOh 2 tem comandos mais rápidos, e a velocidade de resposta do samurai é bastante efetiva. Dessa forma, as vitórias obtidas nas batalhas são graças às habilidades de cada um dos jogadores, assim como as derrotas são atribuídas aos movimentos errados ou ataques em momentos importunos.
Não existe uma “responsabilidade terceirizada”. Vencendo ou morrendo, quem foi o encarregado do resultado da batalha foi exclusivamente o jogador. No caso das derrotas (que são mais costumeiras do que as vitórias), é preciso analisar o comportamento dos inimigos, estar munido de consumíveis e, talvez, reconhecer a necessidade de melhorar o nível antes de enfrentar o desafio.
Ao contrário de Sekiro: Shadows Die Twice, NiOh 2 conta com um sistema de experiência baseado no combate contra inimigos simples. Então, é possível melhorar os status enquanto luta contra monstros mais básicos e, assim, preparar-se para enfrentar os maiores. É uma mecânica que ajuda a vencer mais fácil os chefões, exigindo apenas farmar para obter a experiência desejada.
Os jogadores têm a disposição um arsenal de oito tipos de armas diferentes, como a katana, katana dupla, kusarigama, machadinhas duplas, tonfas, foice-borboleta e muito mais. Elas modificam atributos específicos do protagonista e o arsenal vai corresponder ao estilo de luta do samurai.
Quem gosta de controlar a barra de estamina (KI), vai preferir as armas tradicionais. Quem gosta de ser agressivo, a kusarigama será uma boa opção. Não importa o modelo, há sempre uma alternativa ideal e adequada para o jogador.
Um jogo de várias novidades
Falando especificamente sobre as opções que NiOh 2 oferece, o sistema de personalização é destaque. Os jogadores podem criar seus próprios samurais, mudando atributos físicos e até customizando o formato do modo demônio.
Durante o jogo, é possível também criar a própria cabana e convidar Espíritos Guardiões para enfeitarem a casa. Conforme o progresso na história, novos itens decorativos são desbloqueados. Caso o jogador fique enjoado do visual escolhido inicialmente, é possível transformar tudo de novo.
As alternativas não ficaram restritas ao sistema de personalização. A própria jogabilidade apresenta muitas possibilidades, como a customização dos Espíritos Guardiões com as Almaessências. O recurso é capaz de virar o jogo à favor do mestiço.
Por ser metade demônio, o samurai consegue executar habilidades Yokai – além de se transformar em um. Tais poderes são conquistados matando outros demônios. Ou seja, o jogo incentiva os confrontos desafiadores para obter melhorias especiais.
As Almaessências podem ser melhoradas e configuradas para cada um dos três tipos de Espíritos Guardiões (Fera, Brutamontes e Fantasma). A categoria deles muda o estilo de combate no modo Yokai. Por exemplo, a Fera é focada na rápida movimentação com golpes combinados com esquiva. Por outro lado, o Brutamontes invoca um machado com ataques pesados. Ou seja, a customização da experiência é um dos pilares de NiOh 2.
Outra opção para a experiência de NiOh 2 é o modo cooperativo. Dessa vez, até três jogadores podem participar das sessões e há a possibilidade de invocar um “Túmulo Benevolente”. A mecânica é o inverso do Túmulo Sangrento. Em vez de invocar um personagem para lutar contra, um aliado chega para ajudar.
Porém, quem optar por jogar com companheiros vai sofrer um pouco mais. O título continua um pouco desbalanceado quando vários jogadores estão juntos. Os inimigos ficam bem mais agressivos dependendo da quantidade de samurais na sessão. Às vezes, é mais fácil passar pelas áreas sem ninguém ao lado.
Enquanto o formato das missões é repetitivo, a jogabilidade não cansa de se reciclar. Os inimigos mais básicos conseguem alterar o comportamento e executar movimentos inéditos em diferentes partes do jogo. Por isso, o jogador precisa estar atento a tudo. O gameplay jamais será o mesmo “esmagar de botões”, mas vai exigir dominar novas magias, habilidades, ser mais rápido no combate e lidar com as diferentes possibilidades.
Rostos conhecidos
Embora NiOh 2 conte com vários elementos inéditos, os jogadores que vivenciaram o primeiro título em 2017 vão identificar muitas outras características. O game possui um constante contraste entre o novo e o conhecido que faz a experiência ser como uma espécie de NiOh 1.5.
Alguns elementos foram reapropriados sem tirar nem pôr. Por exemplo, as portas que se movem com os gestos estão de volta. Caso o jogador escolha a opção errada, então um confronto é iniciado. Além disso, os Kodamas estão espalhados novamente pelos vários cenários do Japão.
Muitas das regiões de NiOh 2 lembram os ambientes do primeiro jogo, principalmente as áreas subterrâneas e os cenários às escuras. Por outro lado, as regiões mais claras são uma novidade que enchem os olhos dos expectadores. É uma balança fica girando entre dois lados.
Os próprios personagens da trama também estão de volta. Toyotomi Hideyoshi e Obu Nobunaga, por exemplo, estão nos papéis de líderes do conflito. No entanto, como mais jovens, então as personalidades e comportamentos são mais explosivos.
Curiosamente, até os erros do primeiro jogo retornaram para NiOh 2. O jogo conta com alguns bugs de visualização, como inimigos surgindo no horizonte da tela de modo espontâneo. Além disso, os combates que acontecem à distância sofrem com a queda de quadros por segundo.
O áudio design também é problemático, porque a imersão pelas músicas acontece somente em confrontos maiores. Durante a exploração do mapa, o jogador fica apenas como som dos passos e poucos sons naturais. Tudo isso já foi visto anteriormente e a Team Ninja carregou os problemas para o novo título.
NiOh 2: o veredito
NiOh 2 é como um prato novo no seu restaurante preferido. Você conhece o ambiente, tem até uma familiaridade com os garçons e reconhece os temperos da casa.
Numa mescla entre familiaridade e novidades, NiOh 2 consegue se sustentar como um ótimo jogo. Contudo, não é um título para os casuais, porque exige horas de dedicação e paciência para vencer todos os desafios. Quem pegar o game, precisa estar ciente da necessidade de tentar sempre que for necessário e não desistir.
Com uma jogabilidade ainda mais afiada, um combate brutal, melhorias de personalização e gameplay, o título é um ótimo lançamento para 2020. Não é um jogo perfeito, mas é o que os fãs esperavam. Um título capaz de testar todos os nervos!
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Veredito
Vantagens
- Jogabilidade afiada
- Gráficos melhores
- Elementos inéditos no gameplay
- Desafio de alto nível
Desvantagens
- História mal executada
- Quedas de quadros
- Áudio design quase inexistente