[Análise] Life is Strange 2, Episódio 1: Roads – Vale a Pena?
Somos lobos!
Life is Strange 2, assim como seu predecessor, é sobre pessoas comuns que vivenciam momentos fantásticos em suas vidas. Geralmente tudo vira de cabeça para baixo, mas esses eventos, que são literalmente de outro mundo, são transformadores. Seguindo os moldes do primeiro jogo, Life is Strange 2 traz uma aventura narrativa, baseada em decisões e interações entre os personagens.
O segundo jogo da franquia acompanha a história estranha dos irmãos descendentes de mexicanos Sean e Daniel Diaz. Sean, o mais velho (o personagem jogável), é um adolescente meio perdido – que não sabe bem o que fazer da vida ainda e tem talento para desenhar – mas tudo bem, a única preocupação do dia de hoje é se ele vai conseguir ficar com a menina que ele gosta em uma festa. Daniel, o mais novo, é uma criança de 9 anos que só quer saber de barras de chocolate e customizar uma fantasia irada para o Dia das Bruxas.
Até aí, os dois vivem uma vida normal e tem aquele relacionamento típico de irmãos: implicâncias, brigas bobas e ciúmes. Tudo isso vira de cabeça para baixo quando um evento traumático obriga os dois a deixarem a própria casa e caírem na estrada, como dois fugitivos.
Sean, sendo o mais velho, precisa cuidar de seu irmão caçula. Esta estabelecido aí o alicerce de Life is Strange 2. Sean não é só responsável pelo bem-estar e sobrevivência de seu irmão na estrada e nas florestas onde eles procuram abrigo, mas serve como um mentor. Suas atitudes e respostas são ensinamentos para Daniel. Neste novo jogo, suas decisões não trazem consequências apenas para a trama, mas se tornam uma ferramenta para educar Daniel, que se tornará um espelho do irmão mais velho.
Essa questão torna algumas decisões do jogo mais complexas, sendo difícil escolher entre o “certo” e o “errado” – na verdade, é como se não existissem essas duas opções. Em um determinado momento, por exemplo, Sean está quase sem dinheiro, mas precisa alimentar Daniel. O que você decide fazer? Mendigar? Roubar? Catar comida do lixo? Cada uma dessas opções servem como aprendizado para o irmão mais novo e devem ser escolhidas com cuidado.
Apesar de ainda trazer a história de um adolescente, Life is Strange 2 se mostra bem mais maduro e pesado do que seu predecessor. A trama tem uma postura bastante politizada, inclusive. Apenas em seu primeiro episódio, o game já abordou temas como preconceito contra imigrantes e violência policial. Vale lembrar que Life is Strange 2 se passa exatamente em outubro de 2016, pouco antes de Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos. Em uma era de polarização extrema (seja aqui, seja nos EUA), as duras verdades do game caem como uma luva para o momento atual.
Vale destacar, ainda, o belo trabalho da DONTNOD neste jogo. Apesar de terem entregado uma história com potencial, mas com interatividade bastante morna em Vampyr, o estúdio acertou em cheio nos aspectos narrativos de Life is Strange 2. Os personagens principais e secundários são extremamente críveis, com um trabalho de roteiro e caracterização excelentes. Mensagens de celular, arquivos, textos em diários, e até mesmo comentários introspectivos do próprio Sean ajudam a construir o relacionamento entre os personagens de uma forma que vai além dos diálogos.
Os gráficos de Life is Strange 2 também foram aprimorados em relação ao anterior. Saiu o ar meio “cartunesco” dos personagens de Arcadia Bay para uma pegada mais realista. O jogo parece ter uma engine nova ou atualizada, o que também favorece, e muito, a criação de cenários e a exibição de paisagens muito bonitas em alguns momentos.
Apesar dos vários acertos, o primeiro episódio traz alguns problemas. Em certos momentos surgiram bugs em diálogos – o áudio que tocava com maior volume era de uma conversa paralela e não a do seu personagem com outro NPC; as legendas também pareciam seguir o áudio errado nesses momentos, deixando as coisas um pouco confusas. Esse é um problema que precisa ser corrigido, especialmente por que pode comprometer a imersão e a tomada de decisão em momentos críticos da história.
Vale apontar também que, ainda que Life is Strange 2 tenha uma história muito mais madura e emocional do que a do seu predecessor, a parte “estranha” da trama não parece tão impressionante quanto a do primeiro. Sem dar maiores spoilers, nada deve ser tão incrível quanto poder voltar no tempo como Max era capaz de fazer. Isso torna o começo de Life is Strange 2 um pouco mais morno do que o do primeiro jogo e faz com que as consequências sejam muito mais guiadas pelo sistema de respostas do que por um aspecto de jogabilidade bem mais divertido.
Em resumo, Life is Strange 2 começa uma nova temporada com o pé direito. Além de tocar em alguns aspectos sociais importantes, especialmente para o público norte-americano, o game abandona a problemática adolescente um tanto fútil do primeiro jogo para mergulhar em aspectos emocionais mais intensos. O primeiro episódio, Roads, não começa tão agitado quanto os corredores da badalada academia Blackwell, mas eleva o padrão na hora de construir os aspectos emocionais da história, apesar de ficar devendo em um aspecto “estranho” de gameplay divertido. Assim como a antecessora, esta segunda temporada promete ser obrigatória para aqueles que curtem experiências narrativas guiadas pelas decisões do jogador e super recomendada para aqueles que ainda não deram uma chance para o gênero.