Forma.8: É Indie Mas…
Ao jogar forma.8, a primeira impressão é que o jogo irá, de fato, transmitir uma história minimalista, mas rica em mistério. Um chamado quase inexcusável para a exploração. Tal qual outros jogos do gênero, sua atmosfera noir, gráficos bem trabalhados e uma trilha sonora competente ditam o ritmo.
Infelizmente, após certo tempo e por boa parte do jogo, existem problemas que podem fazer o jogador simplesmente desistir de completar sua “tarefa”.
Tudo começa de uma maneira simplista. O jogador controla forma.8, uma sonda enviada para explorar um planeta, em busca de qualquer achado de valor. Mas, obviamente, algo dá errado.
Uma homenagem clara ao estilo Metroidvania, tão famoso no passado e bem executado em outros jogos mais recentes, Forma.8 é um título que tenta, de modo competente, fazer jus ao legado que carrega. Mas tropeça em alguns pontos críticos.
- Jogo: Forma.8
- Desenvolvido Por: MixedBag Srl.
- Distribuído Por: MixedBag Srl.
- Onde encontrar: Aqui (Cross-Buy PS4/PSVita)
Um Momento… Metro-que?
Jogadores mais novos, ou mesmo alguns mais antigos não-familiarizados com este termo podem achá-lo estranho. Dessa forma, faz-se interessante explicar as raízes do estilo “Metroidvania”.
Se engana quem pensa que Super Metroid (1994) é o principal influente desse gênero. Foi Metroid (1986), com sua jogabilidade não-linear, power-ups permanentes (ao contrário de outros jogos da época), e a necessidade de retroceder a pontos anteriores do jogo quem deu base a ele. Tais mecânicas foram refinadas, e seu auge alcançado em Super Metroid.
Já o diretor de Castlevania: Symphony of The Night, Koji Igarashi, encontrou na franquia Zelda conceitos para implementar em seu jogo. Esses conceitos envolvem um mundo aberto a ser explorado, necessidade de encontrar itens-chave para acessar certas áreas e a possibilidade de evoluir o personagem principal, como em jogos de RPG.
As mudanças se provaram extremamente populares entre os jogadores. E com o lançamento dos dois jogos, foram criadas as fundações do que é considerado “Metroidvania”.
Jogos que seguem estes conceitos são, geralmente, similares em alguns aspectos. Possuem um grande mapa interconectado, não-linear, cujas áreas não estão totalmente acessíveis do início. Usualmente, itens para acessá-las estão guardados por chefes, que acabam sendo desafios dentro do contexto da história.
Igarashi considera alguns aspectos como chaves para um jogo ser bem sucedido neste gênero. Entre eles, estão:
- Um personagem que seja fácil e carismático, para que os jogadores sejam instigados a testar todas as novas habilidades desbloqueadas e/ou conquistadas;
- Um level design que encoraje a exploração, mas que ainda assim leve o jogador pelo caminho da história principal;
- Fornecer meios para que o jogador sempre saiba onde ele se localiza no mundo a qualquer tempo.
Perdido no Espaço
Dito isto, voltemos a falar sobre forma.8. A história do jogo é minimalista, não por acidente. Ao ser enviada para explorar o planeta abaixo, algo dá errado, e a sonda (com nome homônimo ao do jogo) acaba separada de seus pares. Cabe a ela verificar o que aconteceu.
Com isso, dá-se início a uma intrigante história, que se desvenda por meio da exploração. Assim, o jogador é sempre levado a verificar aquela sala, aquela caverna, aquela montanha. Nesse emaranhado de caminhos, civilizações antigas e seus mistérios aguardam.
Sem dúvidas, a melhor parte do jogo é sua história. Ela se desenvolve de forma cadenciada e vai se revelando aos poucos. O jogador sempre fica instigado a tentar descobrir como um enigma baseado em tempo foi parar em um planeta aparentemente desabitado. Ou como máquinas engenhosas podem bloquear seu caminho, sendo que não há qualquer ser vivo para operá-la.
Forma.8 em Forma
Os gráficos do jogo são outro ponto alto. Apesar de provocar certa estranheza à primeira vista, os gráficos vetoriais dão ao jogo uma beleza singular. Logo de início, já na apresentação, é possível ver que a escolha não poderia ter sido mais acertada. As paisagens diversas, desenhadas como à mão, ditam o clima sombrio e melancólico do jogo.
Ao adentrar as primeiras cavernas e iniciar sua exploração, o jogador já se sente completamente imerso no clima de mistério. A escolha da representação e sobreposição das cores foi deveras acertada. O preto, ao estilo Badlands, se sobressai e toma a paisagem mais a frente, enquanto as outras cores contrastam para criar uma atmosfera instigante.
Isso dá ao gameplay um ar quase sobrenatural. Não apenas isso, os diferentes ecossistemas ajudam a mostrar que o planeta, apesar de “aparentemente” não habitado, é vivo e diverso. Tal qual os jogos do gênero, seu level design também incentiva a exploração. A buscar todos os segredos ocultos pelas rochas e passagens do jogo.
A trilha sonora também faz sua parte. Puxando mais para o lado eletrônico, consegue garantir a diversão. O trabalho de sonoplastia também é digno de elogios. Mas, embora estes tenham seus méritos, a música das fases enjoa fácil. Já a dos chefes é mais frenética. Um quase clamor à batalha.
O melhor é que estes elementos se casam bem. Não parecem destoar um do outro.
A Jogabilidade e Suas Nuances
Mas nada disso funcionaria sem uma jogabilidade que fizesse jus ao resto do trabalho. Neste caso, é necessário ser justo: forma.8 tenta, de forma primorosa, trazer algo novo, ao passo em que se mantém fiel às suas raízes. Infelizmente, não consegue como gostaria (ou como deveria).
Forma.8 move-se exatamente como as leis da física regem. Dessa forma, sendo um drone de reconhecimento, não espere por mudar direções, acelerar, ou mesmo parar como está acostumado. Ele usa a inércia do impulso e, dessa forma, as mudanças de direção devem ser pensadas dentro desse contexto. Complicado no início, mas não difícil de aprender.
Como já dito, sendo um jogo ao melhor estilo Metroidvania, exploração traz consigo o achado de habilidades e itens. E o combate é feito com os recursos disponíveis. Outras sondas desativadas deixam para trás esferas de energia, as quais concedem diversos novos benefícios à forma.8, como a capacidade de soltar bombas e disparar projéteis.
A exploração ganha ainda ares melhores ao se perceber que diversos cenários possuem passagens secretas, ocultas nas sombras ou mesmo desbloqueáveis por meio de novas habilidades. Algo que instiga, como comentado anteriormente, a exploração. Chaves, segredos e melhorias. Tudo pode (e deve) ser encontrado nos cenários.
Força Bruta ou a Inteligência? Os dois!
Os combates seguem a mesma lógica. No entanto, alguns inimigos só podem ser derrotados com ataques específicos. Chefes, por exemplo, possuem um padrão de luta que deve ser descoberto. Ataques diretos geralmente não funcionam e o jogador precisa descobrir o que fazer. Por muitas vezes, sem qualquer ajuda.
A vida alienígena também é uma ameaça. Mas tal qual em nosso ecossistema, ataca ao pressentir a ameaça. Cada ambiente possui inimigos específicos para ele, e alguns mais genéricos. Cabe ao jogador escolher se irá lutar ou correr, visto que não há ganho de experiência por matar inimigos no jogo.
Os enigmas são outro ponto interessante. Espalhados pelo cenário, alguns são realmente complicados. E uma vez que não há qualquer ajuda para que sejam solucionados, o jogador pode passar alguns minutos tentando achar soluções que não funcionam, até perceber o que precisa ser feito. Por muitas vezes, sem querer.
“Houston, Temos um Problema”
Este é um jogo que tenta, genuinamente, trazer os bons e velhos sentimentos dos antigos jogos do estilo. E tenta, também, inovar em diversos aspectos, para manter a sensação de evolução. Algo novo, com um sentimento “vintage”. Acaba, contudo, não sendo bem sucedido em alguns aspectos.
Forma.8 simplesmente lança o jogador no mundo, sem dar qualquer explicação sobre os controles ou como funcionam as suas mecânicas. Exceto por algumas poucas dicas visuais, tudo deve ser descoberto na raça. Isso chega a prejudicar, de certa forma, o andamento do jogo.
Por falar em andamento do jogo, a movimentação do personagem é lenta e travada. Contribui para deixar o jogo um tanto maçante por boa parte do gameplay, e travar sobre maneira a exploração. Grandes áreas acabam por ficar enfadonhas, visto que o jogador acaba por querer desistir de percorre-las antes mesmo da metade do caminho.
Como dito acima, alguns enigmas e chefes requerem pensar um pouco mais “fora da caixa”. Não que isso seja de todo ruim. Mas em alguns momentos, tudo indica que certas seções foram desenvolvidas pelo Charada (Batman) em um dia muito estressante. Isso desestimula mais que incita.
Não obstante o fato da exploração ser algo interessante, um dos principais motivos pelos quais o jogo falha é em não apresentar um mapa conciso. O jogador é lançado em salas cheias de locais para explorar, mas que não apresentam quaisquer detalhes no mapa. É como se toda sala estivesse dentro de um quadrilátero, dificultando a exploração.
E mesmo que os mapas se apresentem interconectados, cada mudança de uma sala para outra é antecedida por uma tela de loading. Mesmo que não sejam demorados, isso quebra completamente o senso de “mundo aberto”.
Há vida no jogo. Este é um fato inegável. Mas ela se mostra genérica. Como se fossem todas criadas por algo autônomo. No fim, todos os animais parecem os mesmos, mudando apenas uma ou outra característica.
“Formalizando” a Análise…
Forma.8 é competente. Não resta dúvidas. Um jogo divertido, com uma história envolvente e misteriosa, belos gráficos e uma trilha sonora inspiradora, para dizer o mínimo.
Embora cometa determinados erros que, de uma forma geral, podem prejudicar o gameplay, e afastar os mais céticos e puritanos quanto ao gênero, este é um jogo que merece a atenção.
Especialmente quando se leva em consideração que ele é localizado em nosso idioma e, seguindo a tendência de jogos independentes, possui um troféu de platina. Que, inclusive, não é difícil de ser conquistado. O que pode, ainda, ser um fator diferencial para os mais ávidos na caça aos troféus.
No final, é um jogo que traz à tona bons e velhos sentimentos. A MixedBag trouxe um produto que vale a pena ser recomendado.
VEREDITO: É Indie Mas… É (Muito) Legal.
O que há de bom:
- Traz um grande mapa a ser explorado;
- História e ambientação misteriosos;
- Trilha sonora competente;
- Gráficos deslumbrantes.
O que há de não tão bom:
- Jogabilidade travada (até certo ponto do jogo);
- Falta de elementos essenciais à jogabilidade;
- Loadings entre as salas;
- Formas de vida genéricas e artificiais.
Para quem jogou e gostou de:
- Rogue Legacy;
- Guacamelee;
- Xeodrifter;
- Super Metroid (Castlevania possui um ritmo bem mais acelerado, e aqueles que o jogaram podem não gostar deste).