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Diablo IV: vale a pena?

Game se destaca pela ação dinâmica, trama bem elaborada e gameplay recheado de habilidades, builds e conteúdo

por Raphael Batista
Diablo IV: vale a pena?

“Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então o mau desejo, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” Tiago 1.14-15. O pecado é, muitas vezes, fruto do desejo do homem. A ira, ódio, vingança são sentimentos que controlamos, mas basta uma faísca para tudo desandar. E se um demônio se manifestasse para apenas “abrir nossos olhos?” Ele estaria nos dando a liberdade ou nos condenando? É essa a missão de Lillith em Diablo IV, novo jogo da Blizzard.

O game entrega mais uma grande experiência dessa aclamada franquia de RPG e se preocupa em aprofundar a lore. Além dos seus novos personagens, cativa o jogador pelo gameplay extremamente viciante. A jogabilidade agrada não somente os veteranos com mais opções de customização das builds, mas é também acessível para quem nunca experimentou um capítulo dessa série. Além disso, há um grande conteúdo para ser explorado e com muitas possibilidades.

Se os pecados são gerados pelos desejos intensos dos humanos, prepare-se então para lidar com o vício, pois esse jogo pode te prender.

Libertadora ou Destruidora?

Diablo IV se passa 50 anos após os eventos de Reapers of Souls de Diablo III. O Santuário está fragilizado. Hordas de demônios surgem constantemente e os humanos se voltaram para seitas em busca de proteção e alívio. Nesse contexto, os adoradores de Lilith descobrem um ritual para trazer a Mãe do Santuário de volta enquanto os Adoradores da Luz de Inárius se comprometem a impedi-los.

É interessante que a trama foi tão bem construída que ela não faz os personagens genéricos. Lilith é, sim, um demônio, mas o texto ajuda a entender que também é uma mãe furiosa e, para alguns, a libertadora da maldade que impera no Santuário. Inclusive, seus súditos declaram que “ela abriu os seus olhos” para ver algo que eles não conseguiam enxergar. Dessa forma, nós podemos até notar as nuances do enredo que levanta a questão: será que os humanos não estão buscando apenas uma justificativa para se entregarem aos seus desejos mais intensos?

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Lilith demonstra o máximo do perigo. Fonte: Raphael Batista.

Com a experiência obtida em Overwatch, a Blizzard soube muito bem como desenvolver os novos elementos para a história e, na verdade, conseguiu criar uma linha narrativa mais interessante. Embora a lore desse universo tenha sido muito bem estabelecida desde o início, cada jogo encontrava dificuldades em conectar o enredo com o quadro maior. Nesse game, o problema não acontece e o jogador entende os impactos das ações dos anjos, demônios e, claro, do protagonista.

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O Viajante é o protagonista que o jogador cria. Fonte: Raphael Batista.

O maior dos poderes: o roteiro

Falando sobre o protagonista, ele é chamado de Viajante e é criado pelo jogador. O sistema de personalização é bem básico – o que poderia ser melhor, considerando o fato de se tratar de um RPG de grande escala. Embora o roteiro seja o maior dos super-poderes, pois capacita o protagonista a vencer Males que nenhuma outra pessoa conseguiu, há uma explicação aceitável para esses feitos.

O Viajante se vê numa encruzilhada. De um lado, ocultistas buscam fortalecer Lilith que deseja vingança contra os anjos e demônios. Por outro, adoradores da Luz estão numa Guerra Santa comandada por Inárius que quer, a todo custo, retornar para o Paraíso de onde foi expulso. Então, o protagonista encontra aliados entre os Horadrim que buscam proteger o Santuário.

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Há opções de jogo que mudam drasticamente como você encara essa aventura. Fonte: Raphael Batista.

O desenvolvimento do enredo acontece por meio das missões principais em Atos. As secundárias são atividades relacionadas ao universo, mas não envolvem personagens importantes da trama. As quests funcionam para subir de nível ou buscar equipamentos melhores, por isso, elas são bem simples do tipo “Encontre tal pessoa perdida ou elimine os perigos de tal lugar”.

A campanha dura em torno de 35 horas para ser completada e fica aqui o destaque para as lutas contra os chefões. Jogar no Modo Iniciante é bem fácil, mas ir para o Nível II (Veterano) é o recomendado, pois traz desafios na medida e recompensas melhores.

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O anjo Inárius também se faz presente como uma figura ambígua. Fonte: Raphael Batista.

Livrai nos do Mal

O Viajante é um herói criado pelo jogador e as classes disponíveis trazem formas únicas de jogabilidade. O Bárbaro é um personagem corpo-a-corpo focado em vida enquanto o Necromante possui habilidades de invocação. Porém, esses arquétipos não restringem a criatividade e as possibilidades dos jogadores pela variedade de skills e builds oferecidas.

O gameplay permanece na visão clássica aérea e os principais botões do controle são atribuídos para as skills. Essa perspectiva permite ter uma noção do campo de batalha, mas faltou a possibilidade de personalizar de modo prático, como se aproximar do personagem ou se afastar dele.

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O gameplay clássico volta com mais ação e muitas habilidades. Fonte: Raphael Batista.

Diablo IV, assim como seus antecessores, é um RPG de ação. Ou seja, ele não funciona como um hack and slash em que é necessário apertar os botões freneticamente ou como um game de tiro em 3ª pessoa. Na verdade, ele entrega comandos com habilidades que exigem um tempo de recarga e o uso inteligente de poções, esquiva e poderes especiais.

Uma das grandes vantagens do jogo é a possibilidade de reverter a compra de skills para testar outras formas de jogo. A skill tree é gigantesca para cada uma das classes e ainda oferece melhorias a partir do nível 50, mas caso o jogador tenha investido pontos em uma ramificação e decidiu mudar a build no meio do jogo, é possível redistribuí-los para um lado que melhor se encaixe na estratégia atual.

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Desbloquear novas skills traz novas formas de jogo. Fonte: Raphael Batista.

O pecado do vício

A campanha de Diablo IV entrega muitas missões e uma trama envolvente, mas a Blizzard não poupou em conteúdos. Após zerar a história, atividades de níveis mais elevados são desbloqueadas e há até mesmo a chance de enfrentar o chefão final novamente, mas com modificadores e melhores recompensas.

O conteúdo endgame é ainda expandido com as dungeons (calabouços) espalhadas pelo mapa. São cenários com inimigos variados e tesouros capazes de oferecer atributos melhores. Não são cinco ou dez calabouços, mas mais de 50 para explorar. Claro que cada um deles possui um nível apropriado, mas todos são abertos desde o início para os corajosos ou para quem já tem um esquadrão de amigos.

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Na exploração, os jogadores podem encontrar segredos e vencer desafios. Fonte: Raphael Batista.

A jogabilidade é dinâmica e muito simples, fazendo com que o jogador se envolva facilmente nesse universo. Com tantas atividades disponíveis, fica difícil não abandonar os outros games para se dedicar exclusivamente a ele.

Vale também a menção de que a Blizzard possui um plano de novos conteúdos já programado. O jogo base já oferece muita coisa, mas ainda há mais a caminho! Isso pode tranquilizar a mente daqueles que perguntam se vale ou não investir o dinheiro no jogo. Pensando no custo-benefício, vale demais!

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O mapa do jogo oferece muitas atividades. Fonte: tela de captura.

Sai fora, cruz credo

Infelizmente, a experiência de Diablo IV não foi ausente de problemas – que podem ser agravados no lançamento. O primeiro caso é sobre os servidores. No período da manhã, o jogo rodava liso, sem nenhum travamento. No entanto, à noite era comum inimigos surgirem na tela repentinamente ou, nas lutas contras os chefões, acontecer tanta coisa na tela que os ataques do inimigo demoravam para carregar e, quando apareciam, já tinham acertado o herói e o levado para a vala.

A situação acima aconteceu em várias ocasiões de boss fights. É um problema porque a cada morte, há um prejuízo no equipamento. Sem contar que Diablo IV exige gerenciamento de tempo, habilidade e posição. Logo, morrer por causa de um problema de uma travada no servidor é frustrante e injusto.

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A sobrecarga de servidores pode causar problemas. Fonte: captura de tela.

Outra situação incômoda foi a ausência do Mercador que trará microtransações. Até onde sabemos, o recurso será apenas para itens cosméticos, mas a Blizzard vai inserir esse elemento somente no lançamento oficial do game. Essa questão incomodou por causa do retrospecto da franquia em relação ao uso desse tipo de mercadoria, como no polêmico Diablo Immortal.

Além disso, sentimos que a economia do game está um pouco desbalanceada. Durante mais de 30 horas, coletei Ouro e não gastei nada. Quando decidi comprar um equipamento, percebi que ainda não era o suficiente. Talvez esse problema seja resolvido com a prática de vender os itens e participar de mais dungeons, mas isso chamou a atenção.

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Veremos como a economia do game será mais efetiva no lançamento. Fonte: Raphael Batista.

Diablo IV: vale a pena?

Diablo IV é um game que entrega muito mais conteúdo só para os fãs da franquia, mas abrange quem busca um ótimo RPG de ação ou até mesmo para aqueles que nunca se aventuraram no gênero. Inclusive, se você desconhece os games anteriores e tem interesse em jogar o novo título da Blizzard, pode ir tranquilo. Talvez não reconhecerá certos rostos ou termos específicos, mas é super tranquilo.

Com mecânicas estratégicas e divertidas, uma boa variedade de construção de personagens por meio das habilidades, uma história aliada a um visual sombrio e uma trilha que traz uma atmosfera correta, Diablo IV é um dos melhores títulos lançados até aqui e promete engajar os jogadores por horas e horas.

Veredito

Diablo IV
Diablo IV

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Blizzard

Jogadores: 1

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90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Enredo cativante e lore aprofundada
  • Possibilidades de estilos de jogo pelas builds e habilidades
  • Muito conteúdo variado
  • Endgame oferece novas e divertidas opções de jogo
  • Visual sombrio e muito assustador
  • Trilha sonora cria uma atmosfera de tensão
  • Dificuldade equilibrada para novatos e veteranos
Desvantagens
  • Missões secundárias simples demais
  • Problemas no servidor
  • Recursos ausentes para testes, como loja de microtransações
Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: Dragon Age: The Veilguard | LEGO Horizon Adventures
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.