Call of Duty Modern Warfare: vale a pena?
Jogo tem campanha single player bem dosada, multiplayer divertido e co-op desafiante.
O “dever” está diretamente relacionado ao senso de responsabilidade, ao comprometimento que vai além de regras ou leis. É uma obrigação intrínseca imposta pela moral que cada um traz consigo. E a Activision estava devendo aos fãs de Call of Duty um título que fizesse jus aos retrospectos.
Ainda que WWII (2017) tenha sido um ótimo jogo – exceto suas expansões – a editora ainda estava em dívida. E só um homem seria capaz de tamanha responsabilidade: Capitão John Price. Com ele, “missão dada é missão cumprida”. Tiro certeiro. Por isso, é possível afirmar: Call of Duty Modern Warfare é o melhor Call of Duty desde Black Ops 2.
Campanha single player bem dosada, multiplayer divertido e co-op desafiante, sem muitas firulas, menus complicados, adereços ou futurismos exagerados. São esses os ingredientes que fermentam o game.
A Infinity Ward trouxe sua série mais famosa com uma espécie de soft-reboot. Um recomeço (ou seria reimaginação?) com preservação de vários elementos de sucesso em uma nova história entrelaçada com o que já foi visto. Mas não espere encontrar todos os personagens famosos de Modern Warfare.
Eles não aparecem explicitamente, mas o estúdio deixou boas surpresas guardadas para os fãs. E, claro, os holofotes ficam por conta do icônico Capitão Price. Mais bonito (opa!) do que nunca, o soldado da SAS – Força Especial do Reino Unido – é o alicerce da narrativa com sua personalidade forte, liderança e estratégia.
Na trama de Call of Duty Modern Warfare, os jogadores aterrisam em um conflito no fictício Urzikstão – um país localizado próximo à Rússia e à Geórgia – e devem ajudar os insurgentes locais a expulsarem a organização terrorista Al-Qatala (apoiada pelos Russos) e colaborar para que o “mundo livre” volta a ficar em paz novamente.
Mesmo que os desenvolvedores tenham dito que a equipe só quis criar um produto de entretenimento sem a pretensão de “passar alguma mensagem”, o jogo pega emprestado muitas associações com conflitos atuais. Síria, Curdos, Estado Islâmico, interferências russas e americanas e muito mais vêm à mente.
Tem até missões onde você claramente vai lembrar da invasão da casa de Osama Bin Laden pelo SEALs e outra muito parecida com o filme 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi. Mas, no geral, tudo fica longe da trama de escala global de MW2 e MW3. É um conflito bem mais localizado e até, de certa maneira, factível.
No gameplay, você assume o papel de três diferentes personagens (Alex, agente especial da CIA – Garrick, sargento da SAS – Farrah, insurgente). Todos têm suas motivações e reagem segundo seus ideais. E o storytelling trabalha para construir inquietações nos jogadores na pele de cada um deles e explora muito questionamentos íntimos: por que os soldados lutam? Qual o limite entre o certo ou errado? Fazer uma “pequena” coisa errada, como uma violação dos diretos humanos, em prol de um benefício maior para humanidade é um caminho justo?
Estas provocações em Call of Duty Modern Warfare vão além de cenas de corte e se fazem presentes no gameplay. Em certos momentos, em incursões mais tensas, você tem de decidir rapidamente se a pessoa na sua mira é um potencial terrorista ou um civil assustado. Puxar o gatilho para não correr riscos ou não tirar conclusões precipitadas?
São escolhas sutis. Há momentos onde há mulheres correndo em sua direção onde você realmente fica sem saber como agir. Em determinados casos elas pegam em armas rapidamente e acabam por atirar no seu esquadrão, o que lhe faz ficar muito atento para uma segunda vez, mas nesta era só uma mãe correndo para proteger seu bebê. Ufa!
O próprio Sgt. Garrick questiona Price: “fizemos a coisa certa ao atirar na mulher, senhor?”. Sem titubear, o capitão assinala positivamente.
Destaque para o visual estupendo da campanha. A nova engine faz mesmo um excelente trabalho nos cenários – mais escuros -, nos efeitos de iluminação e nas belíssimas aparências dos personagens. O jogo não deve em nada para os melhores exclusivos de PlayStation em aspectos gráficos. Claro, tudo potencializado pelas ótimas atuações de Price e companhia.
Contudo, mesmo que seja de altíssimo nível, a campanha ainda escorrega em alguns poucos aspectos. Por tratar de um confronto bem menos glamouroso, ela perdeu o teor apoteótico. Além disso, é curta (cerca de 5h). Ou seja, para quem está focado mais no single player, a experiência até é bacana, mas não chega a ser memorável ou um grande diferencial.
O bom do velho Call of Duty
Sem frescuras, Call of Duty Modern Warfare é bem objetivo na oferta dos seus conteúdos. Há só três menus: campanha, multiplayer online e cooperativo. Só.
Entrando no multiplayer você consegue fazer o mesmo que nos demais títulos da série, mas, novamente, sem firulas. Escolha sua classe, faça as personalizações de acordo seu estilo e “puxe” uma partida. Sem aquelas mecânicas de caixas de loot, mercado negro ou criação de armas.
A princípio, parece que o jogo perdeu em escopo, mas sua objetividade fala por si e oferece o que os jogadores realmente querem, jogar. Claro, ainda há possibilidades para equipar perks, skins nas armas e até liberação de personagens, mas o game não avança nisso.
Na hora de jogar, é aquele velho esquema: tiro, porrada e bomba. E é exatamente o que os fãs querem: jogo rápido, bem balanceado, frenético, habilidade para dominar determinados tipos de equipamentos, conhecimento dos pontos de respawn e esconderijos dos mapas.
Além dos já tradicionais Mata-Mata em Equipe e Dominação, o jogo introduz duas novidades: Atirador (2 vs 2) e Guerra Terrestre. O primeiro são dois pares em mapas bem pequenos com variações de armas e recursos. Vence quem abater os adversários ou conquistar a bandeira. É um modo extremamente dinâmico e divertido.
O segundo já foge um pouco da característica de Call of Duty. Guerra Terrestre coloca 32 vs 32 em três variações de mapas bem grandes. Ao estilo Battlefield, os jogadores devem assegurar pontos para liberar pontos de renascimento e conquistar tickets. Mas a opção acaba não se encaixando tão bem na dinâmica do game. CoD sempre cultivou uma pegada mais assertiva, com franca trocação. Neste há um claro favorecimento aos atiradores de elite, sempre a espreita de uma presa.
Há ainda outras inconstâncias. Mesmo com opção mais curtas, no geral, os mapas ficaram maiores. O que novamente nos coloca no dilema dos snipers. É claro que é um recurso a ser explorado, mas o uso extenuante acaba por comprometer um pouco a diversão.
Também há uma discrepância no volume dos passos dos soldados. Eles estão muito altos, o que facilita (e muito) a identificação de onde vem os adversários. O que, novamente, nos leva aos atirados de elite. É fácil traçar uma estratégia seguindo este escopo: basta encontrar um local escondido, plantar uma claymore e ficar atento a luneta. Mesmo a vantagem de reduzir os sons dos pés não está sendo suficiente.
O que parece é que a Infinity Ward traçou um plano para atrair os fãs do jogo da EA para Call of Duty, mas acabou se distanciando um pouquinho da sua própria base.
Por fim, o modo cooperativo. Ele funciona como um complemento bacana da campanha. Há micro-histórias a serem experimentadas junto com amigos em quatro opções: partida pública, sobrevivência e Operações Especiais clássicas.
Seria o equivalente ao Zombies da série Black Ops, mas não só em ondas. Você tem de cumprir objetivos (conquistar pontos, liquidar com alguns figurações, rackear dispositivos, etc). É muito legal de se jogar com companheiros. O bacana é que seu progresso do multiplayer tradicional (armas, equipamentos, prestígios) é levado para este modo.
O dever te chama em Call of Duty Modern Warfare
A Infinity Ward cumpriu para com seu dever. Call of Duty Modern Warfare é um belo retorno da consagrada série. Campanha poderosa, com personagens carismáticos, bem desenvolvidos e modos multiplayer que promete agradar aos fãs.
O jogo erra a mira ao tentar oferecer mapas maiores com veículos e tudo mais, mas oferta de conteúdos gratuitos futuros deve preencher a lacuna de cenários mais curtos que reflita mais a essência da série.
No fim das contas, porém, é o melhor CoD em algum tempo – e isso quer dizer alguma coisa.
Por isso, sem dúvidas, a mais nova criação da Infinity Ward merece o selo “Recomendado” do Meu PS4. Para os fãs da franquia, principalmente, é um capítulo que fará a diferença na coleção. E até mesmo para quem não é um jogador anual de Call of Duty, o jogo tem muitos atrativos.
Caso este seja o último game da série que chega somente a essa geração de consoles, já que no ano que vem já teremos o PS5, Call of Duty Modern Warfare a fecha com chave de ouro.
Veredito
Call of Duty: Modern Warfare
Sistema: PlayStation 4
Desenvolvedor: Infinity Ward
Jogadores: 1 - 32 (online)
Comprar com DescontoVantagens
- Visual absurdo
- Multiplayer frenético
- Jogo mais "limpo"
- Narrativa na medida
Desvantagens
- Mapas muito grandes
- Precisa de ajustes no multiplayer