2Dark: É Indie Mas…
Vindo do pai do gênero "survival horror", esperava-se um pouco mais deste jogo.
Ao ouvir o nome Frédérick Raynal, associado ao jogo 2Dark, as expectativas eram grandes. Afinal, o desenvolvedor é nada menos que a mente por trás de Alone in the Dark, considerado o precursor do gênero survival horror, e ainda considerado por muitos um dos melhores do gênero.
O ex-detetive, chamado apenas de Sr. Smith, perde sua esposa em um acampamento, assassinada. Para piorar, vê seus filhos serem sequestrados. Após sete anos, ele se empenha em acabar com um grupo de seqüestradores de crianças, enquanto ainda tenta encontrar os seus próprios.
Muitas coisas são interessantes no jogo. No entanto, ele se atrapalha em suas mecânicas. Não consegue ser um jogo de furtividade competente, tampouco oferece um jogo de horror convincente. Menus confusos e enredo simplista completam a lista de erros, que só não o tornam um desastre completo pelo áudio competente.
- Jogo: 2Dark
- Desenvolvido Por: Gloomywood
- Distribuído Por: Bigben Interactive
- Onde Encontrar: Aqui (Sem Cross-Buy)
Tudo… Muito Escuro
A história deste título é digna dos melhores fimes-B dos anos 80. Após perder a mulher (assassinada) e os filhos (sequestrados), Smith acaba se afastando da força, e se isola. Sete anos se passam, e ele nunca conseguiu encontrar seus filhos. Mas nem por isso chegou a desistir.
Agora, aproveita também para dedicar sua vida a salvar outras crianças sequestradas, enquanto procura pelas suas. Com sua vida destruída pela dor e pelo álcool, se vê envolto em uma rede de sequestro de crianças na pequena cidade de GloomyTown, e toma para si o dever de dete-la a todo custo.
Apesar de parecer intrincada, cheia de possibilidades, a história não se encaixa. Por exemplo, há a questão da história. Ela lida com assuntos extremamente delicados. No entanto, vez ou outra há a tentativa de inserir uma piada no enredo. O que torna a situação um tanto desconfortável para quem joga.
Além disso, não há uma união perfeita entre esta história, sombria e violenta, e a arte apresentada no jogo. Houve uma tentativa de misturar o fofo com o violento, talvez para minimizar o choque dos jogadores com o que é apresentado. Mas acaba soando mais como uma mistura de “Yoshi’s Island” e “Hotline Miami”.
Fosse somente este o problema verificado, o jogador poderia releva-lo sem problemas. Mas não é, infelizmente, isso que acontece.
Audiovisual Grotesco (e não no melhor sentido)
Por ser um jogo de furtividade com foco no terror, era de se esperar que os visual e áudio do jogo refletissem esta atmosfera. Frisa-se que a parte sonora realmente cumpre seu papel. Pode não ser algo que se destaque, mas é competente em criar um clima sombrio e tenso no jogador.
Os momentos de perseguição, de busca e de recolhimento das pistas espalhadas pelo cenário, são de fato imersivos. As crianças agem conforme… Bem, conforme crianças. Elas gritam e sentem medo, o que acaba por atrair inimigos. Dessa forma, o jogador deve gerenciar até mesmo este aspecto, para não ser pego e terminar morto.
No entanto, a parte gráfica destoa completamente da proposta. Como dito acima, os gráficos soam “fofinhos” demais para um jogo cuja temática é o sequestro e morte de crianças. E sim, crianças morrem neste jogo.
Sendo Smith o único personagem que foi dublado (todos os outros se comunicam por “diálogos por sobre suas cabeças”), 2Dark não transmite aquela sensação de tensão nas vozes e ações dos personagens. Algo até compreensível, visto se tratar de um jogo com uma visão isométrica (o que, no entanto, não impediu outros jogos, como Limbo e Lone Survivor, de conseguir esta façanha).
Mas algo deve ser ressaltado: a violência gráfica do jogo, de fato, está em um patamar diferenciado. Especialmente em se tratando objeto do jogo, que é o sequestro e morte de crianças. E isso pode incomodar alguns jogadores.
Jogabilidade Assustadoramente Mediana
2Dark, como já dito, tem potencial para ser um daqueles jogos que ficam na mente do jogador por horas após o seu fim. E se forem tomadas suas partes, individualmente, ele até consegue algum progresso. Mas um jogo não é feito apenas de elementos esparsos. Por isso, este título escorrega também neste aspecto.
Dois são os elementos principais do jogo: o terror e a furtividade. Ele não se sobressai em qualquer um deles. Na questão da furtividade, as mecânicas usuais são deveras simplistas. A inteligência artificial não ajuda a criar um clima tenso, e fora a jogabilidade usual (esconder-se no escuro, andar em silêncio, mortes furtivas), não há momentos memoráveis.
O mesmo pode se dizer do elemento “horror”. A repetitividade dos elementos citados anteriormente não dá margem para que se construa uma atmosfera verdadeiramente assustadora. À medida que o jogador avança, certas cenas e/ou situações deixam de assustar.
Mas o pior ainda está por vir. A interface é horrível, e os menus são um teste de perseverança. Os itens coletados durante a jornada são colocados no inventário na ordem em que são pegos. Ao tentar trocar de itens durante o jogo, o inventário cobre metade da tela. Como não há pausa no jogo, tal situação pode colocar o jogador em perigo extremo.
Não o bastante a estes elementos, o level design também é enfurecedor. Os níveis possuem inúmeras armadilhas que matam o personagem em apenas um acerto. Estas são mal sinalizadas e, unindo isso às sombras e uma lanterna que precisa ser recarregada por baterias, muitas mortes tendem a ocorrer.
Esta mecânica em si não é um problema. Limbo usa um conceito similar de “tentativa e erro (ou tentativa e morte)”. No entanto, por diversas vezes o jogador será obrigado a refazer seus passos. E isto sim vem a atrapalhar sobremaneira seu avanço.
Hora de Acender as Luzes
Como já dito, 2Dark tem um enorme potencial. E ainda é ajudado pelo fato de os menus e legendas estarem localizados ao nosso idioma, o que torna a tarefa de entender o enredo e desvendar os segredos um tanto mais fácil.
Mas a jogabilidade falha, gráficos incompatíveis com o estilo de jogo, e história mal elaborada contribuem para seu descenso. Soma-se isso ao fato de ele não possuir um troféu de platina, e os mais ávidos caçadores certamente passarão direto por ele.
No final, ter uma lenda do gênero como responsável acabou não fazendo qualquer diferença.
VEREDITO: É indie mas… (Definitivamente não) É legal.
O que é bom:
- O audio;
- O tópico principal do jogo (a desenvolvedora foi brava o suficiente);
- Diversas maneiras de completar os objetivos.
O que não é bom:
- História mal elaborada;
- Jogabilidade abismal;
- Interface medonha.
Para quem jogou e gostou de:
- Lone Survivor;
- Limbo.