Especiais

Slender Man no PS VR2 reforça a importância de se reinventar

Retorno da série em nova modalidade pode servir de exemplo para estúdios de franquias estagnadas

por André Custodio
Slender Man no PS VR2 reforça a importância de se reinventar

O retorno de Slender Man ao cenário dos videogames com Slender: The Arrival VR, previsto para 13 de maio no PlayStation VR2, Meta Quest e PC VR, marca um momento significativo na trajetória de uma das figuras mais icônicas do horror pop.

Originado em 2009 como um creepypasta criado por Eric Knudsen no fórum Something Awful, o personagem sem rosto, de terno preto e presença sobrenatural rapidamente transcendeu os limites da internet para se tornar um fenômeno cultural.

Agora, mais de uma década após seu boom, a franquia aposta na realidade virtual para reacender o interesse do público, oferecendo uma experiência imersiva que reforça a relevância de explorar meios alternativos em um mercado saturado por fórmulas tradicionais.

A era viral de Slender Man no YouTube

A ascensão de Slender Man ao estrelato coincidiu com a explosão dos vídeos Let’s Play no YouTube, na década de 2010. O lançamento de Slender: The Eight Pages em 2012, um jogo independente desenvolvido por Mark J. Hadley, acelerou essa popularidade.

Com uma premissa simples — coletar oito páginas em uma floresta escura enquanto se é perseguido por uma entidade implacável —, o título conquistou milhões de jogadores e espectadores.

Números impressionantes da época ilustram o impacto: vídeos de influenciadores como PewDiePie, que acumulou dezenas de milhões de visualizações com suas reações exageradas ao jogo, ajudaram a transformar Slender Man em um ícone viral.

Slender: The Eight Pages
Fonte: Reprodução

O site oficial do jogo chegou a colapsar devido ao tráfego intenso, e até programas de televisão, como o quadro “Clueless Gamer” de Conan O’Brien, exploraram um fenômeno quase sem precedentes.

Esse sucesso inicial demonstrou o poder da simplicidade aliada ao horror atmosférico, pavimentando o caminho para Slender: The Arrival, lançado em 2013 pela Blue Isle Studios como uma expansão comercial do conceito original.

O renascimento em realidade virtual

A decisão de trazer Slender: The Arrival para a realidade virtual em 2025 não é apenas uma tentativa de atrair pela nostalgia, mas uma resposta estratégica às demandas do mercado contemporâneo, que pedem mudanças e adaptações.

A versão VR, que utiliza as capacidades avançadas do PS VR2 — como feedback háptico nos controles Sense e vibração no headset —, promete intensificar a sensação de vulnerabilidade que definiu o sucesso da franquia.

Em um comunicado oficial no PlayStation Blog, a Blue Isle Studios destacou que a imersão proporcionada pela VR permite uma conexão mais íntima com o mundo do jogo, algo essencial para o gênero de survival horror.

Esse movimento chega em um momento em que o PS VR2 busca consolidar sua posição no mercado, após um início tímido desde seu lançamento em 2023, oferecendo uma oportunidade para a Sony e desenvolvedores revitalizarem títulos com apelo estabelecido.

Slender: The Arrival VR
Fonte: Blue Isle

A popularidade duradoura de Slender Man também reflete sua versatilidade. Além dos jogos, o personagem inspirou séries como Marble Hornets, que acumulou milhões de visualizações no YouTube, e até um filme em 2018, embora menos bem-sucedido.

A atualização de 10 anos de Slender: The Arrival em 2023, com gráficos renovados em Unreal Engine 5, já indicava um esforço para manter a franquia relevante. Agora, a incursão na VR amplia esse legado, alinhando-se a uma tendência crescente.

Em 2024, o mercado de realidade virtual movimentou cerca de US$ 2,5 bilhões globalmente, com projeções de crescimento anual de 30% até 2030, segundo a Statista. Esse cenário sugere que a aposta em tecnologias emergentes pode ser uma saída viável para franquias que buscam se reinventar.

Um exemplo para franquias saturadas

O caso de Slender Man oferece lições valiosas para estúdios que enfrentam o esgotamento de suas séries mais tradicionais. Grandes franquias como Call of Duty, Assassin’s Creed e FIFA (agora EA Sports FC) frequentemente recebem críticas por repetição e falta de inovação, mesmo com vendas robustas.

Em contrapartida, o renascimento de Slender: The Arrival em VR demonstra que revisitar propriedades intelectuais com abordagens disruptivas pode reengajar o público. A Blue Isle Studios, ao adaptar um título de nicho para uma plataforma de ponta, exemplifica como a combinação de nostalgia e tecnologia pode abrir novos caminhos narrativos e mecânicos.

Outros exemplos reforçam essa tendência. Resident Evil 4, relançado com suporte ao VR, foi aclamado por revitalizar um clássico com uma perspectiva imersiva em primeira pessoa, alcançando mais de 1 milhão de usuários ativos na plataforma.

Resident Evil 4
Fonte: Capcom

Da mesma forma, Half-Life: Alyx provou que a tecnologia pode elevar franquias adormecidas a novos patamares de relevância crítica e comercial.

Esses casos indicam que estúdios com portfólios saturados poderiam se beneficiar ao experimentar com realidade virtual ou outras tecnologias emergentes, como realidade aumentada, para trazer experiências frescas sem abandonar suas marcas consolidadas.

O impacto e os desafios da estratégia

A abordagem da Blue Isle Studios com Slender: The Arrival VR não está isenta de riscos. Críticas ao jogo original apontavam sua curta duração e repetitividade, limitações que a realidade virtual precisará superar para justificar o investimento dos jogadores.

Contudo, a adição de elementos como novos inimigos e interações táteis, aliados à imersão da VR, pode mitigar essas falhas, oferecendo uma experiência mais rica e mais variável.

Além disso, o timing é favorável: o PS VR2, apesar de vendas modestas (cerca de 2 milhões de unidades até meados de 2024, segundo o estúdio Toast Interactive), ganhou impulso com lançamentos como Metro Awakening, sugerindo um ecossistema em expansão que pode acolher títulos como Slender Man.

Para empresas com franquias desgastadas, o exemplo de Slender Man no PS VR2 sublinha a importância de diversificar formatos e plataformas. Em vez de depender exclusivamente de sequências anuais ou remakes tradicionais, estúdios podem explorar como a tecnologia recontextualiza suas histórias e experiências de gameplay.

Slender Man
Fonte: Blue Isle

Isso não significa abandonar o modelo clássico, mas complementá-lo com apostas inovadoras que atendam às expectativas de um público cada vez mais exigente e com voz para cobrar, especialmente nas redes sociais.

O retorno de Slender Man em Slender: The Arrival VR no PS VR2 é mais do que uma jogada nostálgica; é uma prova de que franquias com raízes profundas podem encontrar nova vida ao abraçar tecnologias emergentes.

Desde sua explosão viral no YouTube até sua reinvenção imersiva, a trajetória do personagem reflete a resiliência de conceitos simples adaptados a novos contextos. Para a indústria de games, esse movimento serve como um convite à reflexão: em um mercado competitivo e saturado, buscar caminhos alternativos pode ser a chave para manter a relevância e reconquistar jogadores.

Slender Man, com sua figura pálida e aterrorizante, continua a ensinar que o medo — e a inovação — nunca saem de moda.

Você concorda com essa reflexão? Comente!