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[PSX] Co-CEO de Detroit: Become Human revela inspiração brasileira

Tem um pouquinho de Brasil no game.

por Thiago Barros
[PSX] Co-CEO de Detroit: Become Human revela inspiração brasileira

Anaheim (CA) – Que Detroit: Become Human é um dos jogos mais esperados de 2018 todo mundo já sabe. Que a Quantic Dream gosta de jogos emotivos e muito focados em narrativas também. Mas e que Guillaume de Fondaumière, co-CEO da companhia, começou sua carreira trabalhando com um brasileiro que lhe inspirou justamente a apostar nesse tipo de game? Em entrevista exclusiva ao Meu PS4 na PlayStation Experience 2017, o executivo contou essa história.

Seu primeiro trabalho na indústria foi com Pilgrim: Faith as Weapon, um game inspirado pelo livro O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, e produzido pela Arxel Tribe. Era um point-and-click em primeira pessoa, lançado para Windows em 1997, que teve participação direta do escritor brasileiro em toda a sua concepção. O jogo fez sucesso na França, e a empresa fez mais dois games com ele: The Legend of the Prophet and the Assassin (1999) e The Secrets of Alamut (2001).

Comecei minha carreira em games com Pilgrim, que foi escrito por Paulo Coelho. Trabalhei dois anos com ele, é uma pessoa maravilhosa e que me ajudou a saber mais sobre o Brasil. Foi uma experiência fenomenal, que inclusive é muito do que me inspirou e me motivou a criar jogos que têm um maior foco em história e são guiados pela criatividade. Desde então, só fiz jogos assim – revelou.

E, claro, Guillaume também falou sobre o seu próximo grande lançamento. Detroit: Become Human já se tornou extremamente popular entre os jogadores do PS4, e as pessoas que tiveram a oportunidade de testá-lo em eventos ao redor do mundo, como na Brasil Game Show e aqui na PlayStation Experience, são só elogios. Mas até chegar a esse ponto, a Quantic Dream trabalhou muito. Confira abaixo um pouco dessa trajetória, contada pelo co-CEO da empresa.

Meu PS4: Na apresentação de ontem (sexta-feira), você falou que foi “um inferno” criar esse jogo, por conta das ramificações e da complexidade que isso criou. Quanto tempo vocês levaram para criar essa história, e quato ainda falta?

Guillaume: O desafio era criar uma experiência que fizesse com que o jogador pudesse tomar decisões importantes praticamente a cada minuto. E, claro, fazer uma história assim foi trabalhoso, porque são muitas ramificações e o jogador pode, de fato, mudar tudo o que acontece. Então demorou quase três anos para terminarmos o script. Outro desafio, claro, pelo tamanho e complexidade do jogo, criá-lo, fazê-lo virar realidade, é difícil. Tivemos que contratar muitos atores, gravar muitas e muitas horas de motion capture. É um trabalho longo demais, com muita gente, no estúdio e fora… Foi super desafiador criar uma experiência tão complexa.

Meu PS4: Acabei de ouvir de uma menina lá fora que foi uma experiência “estressante” jogar Detroit: Become Human. O que você acha disso?

Guillaume: Quisemos fazer algo significativo. Colocar os jogadores no papel de herói e fazê-los se questionarem com dilemas morais difíceis. É o jogo mais ambicioso que já criamos. Não só pelo tamanho e complexidade, mas também porque decidimos tocar em temas relevantes. É um jogo para adultos, e quisemos criar uma experiência que fizesse com que as pessoas se perguntassem coisas como: “O que significa ser humano?”.

Meu PS4: E sobre a abordagem de temas polêmicos, e o fato de algumas pessoas mais conservadoras estarem dizendo que eles não deveriam estar em games?

Guillaume: Para muitas pessoas, os assuntos que estamos tratando não deveriam estar em jogos, porque acham que jogos são só tiros, pulos, etc. Mas acho que os games evoluíram, a mídia está madura o bastante para tratar disso, e claro que fizemos tudo com sensibilidade, mas não fizemos nada com muita leveza, porque achamos que os jogadores estão prontos para isso. O feedback que recebemos nas últimas semanas foi impressionante. Vídeos, mensagens de pessoas que querem que entreguemos o jogo como fizemos. Sem deixar de falar dos “assuntos difíceis”. E é exatamente o que vamos fazer.

Meu PS4: Não é um jogo fácil de jogar, né? Eu acabei de testar, fiquei com as mãos todas suadas, há muitas combinações de botões e movimentos para fazer.

Guillaume: No gameplay, tentamos ao máximo simular as ações dos personagens no controle, para que se gerasse uma empatia, para você realmente se identificar com eles.

Meu PS4: Você esperava que Detroit: Become Human fosse ser esse sucesso desde que foi anunciado?

Guillaume: Estamos muito agradecidos, de verdade, pela expectativa que se criou em cima do jogo. Claro, como desenvolvedor, você sempre quer tocar o maior número de pessoas possível. Mas é difícil se destacar no meio de tanta coisa boa. Mas espero, sinceramente, que consigamos fazer o amor e a energia que dedicamos a essa experiência chegue a muita gente.

Meu PS4: Não sei se você sabe, mas na Brasil Game Show nós elegemos Detroit: Become Human como melhor jogo. Pode mandar uma mensagem para os fãs brasileiros?

Guillaume: Estamos muito felizes por receber esse prêmio de vocês na Brasil Game Show. É incrível saber que alcançamos o público brasileiro e estamos ansiosos para ver o que vocês vão achar dele. Vamos, sim, lançar o jogo em Português do Brasil.

Meu PS4: Para fechar, o booth de vocês aqui na PlayStation Experience está incrível com aquela vitrine de pessoas interpretando androides. Como surgiu isso?

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Guillaume: Quando discutimos com a equipe de marketing o que faríamos, há alguns meses, tivemos essa ideia louca de replicar uma rede que nós temos no game. Em Detroit, há uma companhia, a maior do mundo em fabricação de androides, chamada Cyber Life, e eles têm lojas nos mais variados lugares. Tentamos trazer isso para a realidade. A primeira vez que fizemos com nosso product manager japonês na Tokyo Game Show. Ele deu a ideia, criamos e ficamos surpresos pela repercussão. Então trouxemos para cá. Não só temos o display como uma série de pessoas como androides. É um efeito super legal, e a interação dos jogadores com eles é incrível. O que também gosto é que você acaba se questionando se isso pode virar uma realidade no mundo. Vi muitas pessoas se sentindo até um pouco incomodada, e isso é ótimo, porque talvez, em 20 anos, haja androides “quase-humanos”. Eles serão só objetos, mas e se eles forem inteligentes? E se tiverem emoções?