[Opinião] “Mortal Kombat Legends: Cage Match” é apenas uma boa tentativa
Saudosista e estiloso, nova animação da franquia tenta revitalizar, embora esbarre em clichês
A série anual “Mortal Kombat Legends” retorna ao universo do cinema nesta semana, com a estreia de “Cage Match“. Focado no herói improvável Johnny Cage, o filme consolida a franquia como uma grande aposta da Warner Bros. Animation para estender o mundo dos games.
Após pisar no freio com “Snow Blind” (2022), o multiverso da singular franquia de jogos de luta altera quase que completamente seu conceito. E essa renovação pontual vem com alguns aspectos dignos de elogios, mas com problemas capazes de ligar o alerta vermelho.
Dessa vez, Ed Boon cria um roteiro original, trabalhando ao lado do diretor Ethan Spaulding. Nome conhecido do cinema animado (“Batman”, “Scooby Doo”, “Liga da Justiça”), ele também tomou à frente dos dois primeiros “Mortal Kombat Legends”: “A Vingança de Scorpion” e “A Batalha dos Reinos”.
Se essa foi ou não uma boa escolha da Warner, você pode conferir os detalhes a seguir. Vale lembrar que a análise possui leves spoilers da trama, mas nada capaz de comprometer a experiência.
Neon, carros esportivos e atmosfera emblemática
Ainda buscando o sucesso na indústria do cinema, Johnny Cage vive o auge de sua juventude. Carismático, sarcástico e certeiro em atos e palavras, ele vive intensamente tanto em sua vida pessoal quanto em seus projetos de ação. Apesar disso, o astro sente que falta algo.
Prestes a descobrir a resposta ao assumir o papel de um mímico ninja, Cage vê seu sucesso ruir quando descobre que a co-estrela de seu filme, Jennifer, está desaparecida. Com isso, ele decide ir atrás de sua colega de trabalho ao lado do assistente, Chuck.
É então que começa a trama principal de “Mortal Kombat Legends: Cage Match”. Ao chegar na casa de Jennifer e encontrar o local revirado, Cage escuta sons vindo de um dos quartos. Para sua surpresa, duas guerreiras brigam por um pergaminho e parecem não ceder até conseguirem capturá-lo.
Quando Johnny descobre que uma delas é Ashrah, uma personalidade do submundo e membro do grupo White Lotus, sua vida vira de cabeça para baixo. Agora, além de identificar o paradeiro de sua colega, ele entra em uma perseguição onde as consequências são o destino da humanidade.
“Mortal Kombat Legends: Cage Match” é ambientado em uma cidade vibrante, onde neon, músicas de rock oitentista nas rádios e carros esportivos dominam as ruas. Logo no início, é estabelecido um ar no estilo “Karate Kid”, onde tudo respeita uma época onde a busca pelo sucesso ditava as regras.
Nesse aspecto, há uma mudança da água para o vinho em relação aos filmes anteriores. “Cage Match” é mais centrado e se destaca por um ritmo mais convincente, à medida que parece ter motivações reais — e não apenas vinganças milenares ou torneios de luta — para justificar os eventos.
Deixando as lutas, indo para os cinemas
Tudo se propõe a fugir um pouco dos padrões. No filme, a violência excessiva dá lugar a uma experiência mais substancial. E apesar do filme ser bastante extravagante e caricato, ele prende o suficiente para pelo menos exibir as conclusões dos atos.
Agora, Ed Boon e Ethan Spaulding apresentam uma proposta mais definida e bem conceituada. “Mortal Kombat Legends: Cage Match” o tempo todo traz a sensação de ser um filme, independentemente da forma como seja tratado: uma sessão da tarde boba ou uma ação agressiva.
Infelizmente, a busca por um longa mais narrativo parece ter deixado os produtores em uma zona de conforto. A história do filme realmente é boba, e mesmo os fanservices só aparecem brutalmente na última parte do ato final. Esperar até esse momento pode ser um pouco frustrante.
Ao longo de mais de uma hora, Johnny Cage não faz silêncio por um minuto. E mesmo que o filme não possua muitos personagens — especialmente canônicos —, o herói dá um jeito de abrir sua boca e falar qualquer coisa. Como? Através da quebra de quarta parede.
Felizmente, todos nós conhecemos muito bem o querido ator da franquia Mortal Kombat. Em “Mortal Kombat Legends: Cage Match”, a essência do lutador é respeitada do início ao fim, mesmo que seja em uma época diferente e em circunstâncias diferentes; onde sequer os seus poderes são conhecidos.
“Mortal Kombat Legends: Cage Match” é um filme muito estiloso
As coreografias de luta em “Mortal Kombat Legends: Cage Match” são na média e se equiparam às dos filmes anteriores, com alguns momentos de picos para baixo. São poucas lutas realmente consistentes, mas algumas se destacam por abordar com excelência nomes como Ashrah e Sareena.
Porém, vale a pena ressaltar que o ponto forte da animação é o estilo visual. Os efeitos e o “chroma” do filme são belíssimos. Reflexos em personagens e objetos, cores se fragmentando após o contato com neon, cabelos em degradê — tudo condiz bastante com a época abordada.
Além disso, “Mortal Kombat Legends: Cage Match” possui uma ótima cinematografia, com takes bem realizados e com fluidez na animação. Olhos menos treinados certamente observarão poucos cortes em cenas mais agitadas, bem como o esforço da Warner em preparar algo caprichado.
A aventura solo de Johnny Cage, apesar de possuir pouquíssimas referências aos jogos — além de Ashrah e Sareena, temos flashes de Raiden e um evento com Shinnok —, é agradável no geral. Boba assim como o protagonista, ela não foge da zona comum, mas chama a atenção por buscar algo diferente.
“Cage Match” também pode não ser o melhor “Mortal Kombat Legends” já feito, mas é o mais ousado e original. Alguns clichês com certeza incomodarão, assim como as conveniências de roteiro absurdas no ato final, mas não tem como negar que há um primeiro passo para mares mais movimentados.
O quarto filme da franquia animada está disponível em Blu-Ray em regiões selecionadas.