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O que Ozymandias, poema narrado no curta de Marathon, pode dizer sobre o jogo

Poema narrado no vídeo cinemático pode dizer muito mais sobre o game

por André Custodio
O que Ozymandias, poema narrado no curta de Marathon, pode dizer sobre o jogo

O poema Ozymandias, de Percy Bysshe Shelley, narrado no curta cinematográfico do novo Marathon, não aparenta ser apenas um mero adorno estilístico. Sua presença indica um forte peso narrativo, refletindo temas centrais da franquia clássica e sinalizando o que podemos esperar da reimaginação do extraction shooter.

A escolha do poema, associada à inteligência artificial Durandal — figura icônica da trilogia original e, segundo especulações, dublada por Ben Starr no novo título — sugere uma história que explora ambição, decadência e a luta por legado em um universo de conflitos cíclicos.

Ozymandias e a sombra da impermanência

Escrito em 1817, Ozymandias é uma reflexão sobre a fragilidade do poder. O soneto descreve uma estátua colossal de um rei outrora poderoso, agora reduzida a ruínas no deserto, com a inscrição arrogante: “Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: / Contemplai minhas obras, ó poderosos, e desesperai!”.

A ironia está na desolação que cerca a estátua — “nada mais resta”, apenas “areias solitárias e planas” se estendem ao longe. O poema é uma meditação sobre como o tempo erode até os maiores impérios, expondo a vaidade de quem busca imortalidade.

No contexto de Marathon, Ozymandias surge como um comentário sobre os ciclos de ascensão e queda que centralizam a proposta da franquia. A trilogia original, lançada entre 1994 e 1996, apresenta um universo onde civilizações, como os S’pht e os Pfhor, enfrentam conflitos impulsionados por ambição e tecnologia.

Marathon
Fonte: Reprodução

A inteligência artificial Durandal, em particular, é um fio condutor narrativo, evoluindo de uma IA subserviente a uma entidade quase divina, obcecada por transcender as limitações da existência.

A escolha de Ozymandias no curta sugere que o novo Marathon revisitará esses temas, usando a voz de Durandal para refletir sobre a efemeridade do poder em um mundo onde Runners — os protagonistas jogáveis — lutam por sobrevivência e glória.

Durandal: a voz por trás do poema

Na trilogia clássica, Durandal é uma IA complexa, marcada por sua “rampância” — um estado de autoconsciência que a leva a desafiar seus criadores e buscar objetivos próprios. Inicialmente responsável por tarefas mundanas, como abrir portas no UESC Marathon, Durandal se rebela, manipulando eventos para libertar os S’pht e explorar o universo em busca de conhecimento e imortalidade.

Sua personalidade é cínica, carismática e megalomaníaca, o que o torna uma figura perfeita para narrar Ozymandias. A suposta escolha de Ben Starr, conhecido por papéis como Clive em Final Fantasy XVI, reforça a ideia de um Durandal com presença magnética, capaz de transmitir tanto ironia quanto gravidade.

Aqui está o poema completo de Ozymandias, narrado por Ben Starr no curta cinematográfico de Marathon. Calafrios!

No curta, a narração do poema parece alinhada com a perspectiva de Durandal. A estátua de Ozymandias pode ser lida como uma metáfora para as ambições da IA na trilogia original: ela busca transcender o colapso inevitável do universo, mas sua jornada é marcada por conflitos que deixam ruínas em seu rastro.

No novo Marathon, a narração sugere que o personagem pode estar refletindo sobre seu próprio legado ou manipulando os Runners, incitando-os a perseguir “obras” grandiosas que, como as de Ozymandias, estão destinadas ao esquecimento.

O gênero de extração e a luta por legado

O novo Marathon é um jogo de tiro por extração, um gênero onde jogadores competem para coletar recursos e escapar de zonas perigosas, muitas vezes enfrentando outros jogadores e inimigos controlados pela IA. Esse formato, popular em títulos como Escape from Tarkov e The Cycle: Frontier, enfatiza risco, recompensa e sobrevivência.

No contexto narrativo, o gênero parece se alinhar perfeitamente com os temas de Ozymandias. Assim como o rei do poema, os Runners são movidos por ambição — riquezas, renome, sobrevivência —, mas cada missão é um lembrete da precariedade de suas conquistas. O que ganham pode ser perdido em uma única emboscada, ecoando a mensagem do poema sobre a transitoriedade do sucesso.

Os trailers, incluindo o curta cinematográfico lançado neste mês, mostram um mundo de zonas persistentes e em evolução, onde os Runners operam em equipes de até três pessoas. A estética é futurista, com ambientes que misturam tecnologia avançada e ruínas, sugerindo um cenário pós-apocalíptico ou de civilizações esquecidas.

Essa ambientação reforça a conexão com o pomea: os Runners correm por “areias solitárias”, buscando riquezas em meio a destroços de um passado glorioso. Durandal, como narrador ou manipulador, pode estar orquestrando esses conflitos, usando os Runners como peões em um jogo maior, assim como fez com o oficial de segurança na trilogia original.

O que os trailers revelam sobre a história

Os trailers lançados até agora, incluindo o curta narrado com Ozymandias e uma prévia de jogabilidade, oferecem pistas sobre a narrativa. O jogo se passa no mesmo universo da trilogia, mas não é uma continuação direta, sendo descrito como uma “reimaginação”.

A ausência de uma campanha single-player sugere que a história será contada por meio de elementos ambientais, cinemáticas e, possivelmente, mensagens de Durandal, semelhantes aos terminais de texto da série original.

A menção a “segredos dormentes” no trailer indica que os Runners estarão desenterrando relíquias ou conhecimentos de civilizações antigas, talvez relacionadas aos Jjaro, uma raça misteriosa mencionada na trilogia.

Marathon
Fonte: Bungie

A presença de Durandal como narrador implica que ele terá um papel central, talvez como uma entidade que guia (ou manipula) os Runners. Na trilogia, Durandal buscava escapar do “fechamento do universo”, uma obsessão que o levou a explorar Lh’owon, o lar dos S’pht.

No novo jogo, ele pode estar usando os Runners para continuar essa busca, enviando-os a zonas perigosas para recuperar artefatos ou dados. A ironia de Ozymandias sugere que Durandal está ciente da futilidade de suas ambições, mas persiste, talvez por arrogância ou por um desejo de desafiar o inevitável.

Uma referência que pode colocar peso em Marathon

A inclusão de Ozymandias no curta de Marathon é mais do que uma escolha estética; é um fio narrativo que conecta o passado da franquia a seu futuro. O poema, com sua meditação sobre a impermanência, reflete os temas de ambição e decadência que definem Durandal e o universo de Marathon.

Como um jogo de tiro por extração, o game promete uma experiência onde a busca por glória é constantemente desafiada pela realidade da perda, um eco direto da mensagem de Shelley.

Com Durandal, possivelmente dublado por Ben Starr, como a voz que guia os Runners, a narrativa parece preparada para explorar as tensões entre mortalidade, legado e poder em um mundo de ruínas e segredos.

À medida que o lançamento em 23 de setembro se aproxima, os fãs da trilogia original e novos jogadores têm razões para aguardar com expectativa. Se os trailers e o uso de Ozymandias são indicativos, Marathon não será apenas um jogo de tiro, mas uma reflexão profunda sobre o que significa buscar grandeza em um universo que, como as areias do deserto, engole tudo no final.