Mad Max: 10 anos depois, é hora de reconhecer uma grande injustiça
Abandonado pela Warner, Mad Max é um jogo que merecia muito mais. E não apenas da editora
Há quase dez anos, em setembro de 2015, o mundo dos videogames recebia Mad Max, um título desenvolvido pela Avalanche Studios e publicado pela Warner Bros. Lançado poucos meses após o aclamado Estrada da Fúria chegar aos cinemas, o jogo tinha tudo para ser um sucesso estrondoso: uma licença poderosa, um estúdio talentoso e um universo pós-apocalíptico rico em possibilidades.
No entanto, a história que se seguiu foi marcada por uma recepção morna, vendas abaixo do esperado e, sobretudo, um abandono injusto por parte da Warner Bros. Uma década depois, é hora de revisitar esse clássico cult e reconhecer a grande injustiça que ele sofreu — um jogo que, apesar de suas qualidades inegáveis, nunca recebeu o devido crédito ou suporte.
A história por trás do jogo
Mad Max surgiu em um momento de transição para a Avalanche Studios, conhecida até então pela série Just Cause. Inspirado pelo universo criado por George Miller, o jogo não adapta diretamente nenhum dos filmes da franquia, mas constrói uma narrativa original que captura a essência do deserto pós-apocalíptico.
Nele, acompanhamos Max Rockatansky, dublado por Bren Foster, em sua jornada para construir o Magnum Opus — um veículo definitivo que o levará às míticas “Planícies do Silêncio”. Após ter seu icônico Interceptor roubado por Scabrous Scrotus, um tirano brutal e filho de Immortan Joe, Max se alia ao excêntrico mecânico Chumbucket para sobreviver às gangues do Wasteland.

O desenvolvimento começou em 2011, com George Miller sendo consultado na pré-produção para garantir fidelidade ao tom da franquia. Anunciado na E3 2013 com lançamento planejado para 2014, o projeto enfrentou atrasos e ajustes, chegando às prateleiras em 1º de setembro de 2015 para PS4, Xbox One e PC.
Apesar de não ser uma adaptação literal de Estrada da Fúria e aos filmes estrelados por Mel Gibson, o jogo incorpora elementos familiares, como Gas Town e referências ao Thunderdome, criando um elo tangível com os filmes.
Conexão com os filmes: um deserto fiel
O grande trunfo de Mad Max está em sua capacidade de traduzir o mundo abandonado e insano dos filmes para uma experiência interativa. O Wasteland do jogo é um deserto vasto e opressivo, repleto de canyons, ruínas e tempestades de areia que refletem a estética dieselpunk da franquia.
Não é apenas um pano de fundo: cada região tem uma história própria, com destroços e relíquias que contam pedaços do colapso da civilização. A presença de facções como os War Boys e os Buzzards reforça a conexão com a mitologia cinematográfica, mesmo que a narrativa seja independente.
George Miller, embora não tenha dirigido o jogo, deixou sua marca ao orientar a Avalanche a capturar o espírito de sobrevivência e desespero que define Mad Max. O resultado é um mundo onde carros são reverenciados como armas e símbolos de poder, e onde a escassez de recursos — água, combustível, munição — reflete a luta brutal vista nas telas.
Combate, corridas, explosões e tempestades de areia
Um dos aspectos mais elogiados de Mad Max é seu sistema de combate, dividido entre confrontos corpo a corpo e batalhas com veículos. No chão, o jogo adota um estilo de luta fluido e visceral, inspirado diretamente na série Batman: Arkham, também publicada pela Warner Bros.
Com indicadores visuais para ataques e contra-ataques, Max executa golpes brutais que ganham potência em seu estado “frenético”. Armas como o Thunderstick explosivo e o clássico shotgun de cano duplo adicionam uma grande variedade de ações, apesar da munição limitada — um detalhe que reforça a lógica do universo.

Já o combate veicular é onde Mad Max brilha de verdade. Cerca de 60% da jogabilidade gira em torno de pilotar o Magnum Opus, que pode ser customizado com armas como arpões, lança-chamas e armaduras reforçadas.
As perseguições no deserto, com carcaças de metal colidindo em alta velocidade, são emocionantes e estratégicas, exigindo que o jogador equilibre ataque, defesa e manobras arriscadas. Esse sistema de corridas e batalhas não só captura o caos dos filmes como também influenciou títulos posteriores, consolidando a Avalanche como referência em jogos de ação open-world.
Um clássico cult nascido na sombra
Apesar de suas qualidades, Mad Max não teve o impacto comercial esperado. Lançado no mesmo dia que Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, o jogo enfrentou uma alta concorrência e ficou ofuscado.
Críticas foram mistas: enquanto a direção artística, o combate veicular e a atmosfera receberam elogios, a narrativa e o design de missões foram apontados como repetitivos. No Metacritic, o jogo oscila entre 69 e 73, dependendo da plataforma — uma nota mediana, mas aquém do que merecia.

Com vendas decepcionantes, Mad Max ganhou vida nova entre os jogadores ao longo dos anos, tornando-se uma espécie de clássico cult. Comunidades online, como no Reddit e em fóruns de games, ainda celebram sua jogabilidade viciante e seu mundo imersivo, comentando que o game merecia mais.
A percepção mudou: o que antes era visto como um “bom jogo licenciado” passou a ser reconhecido como uma obra subestimada, digna de revisitação e de mais carinho por parte da Warner, que há anos já ignora o projeto e a propriedade.
Mad Max é uma ferida aberta
O maior golpe contra Mad Max, porém, veio da própria Warner Bros. Após o lançamento, o suporte ao jogo foi mínimo. Conteúdos adicionais planejados, como DLCs, nunca saíram do papel, apesar de estarem prontos.
Em 2020, os servidores online foram desativados, tornando desafios multiplayer e conquistas relacionadas — como a construção do Scrap Crew — impossíveis de completar. Isso inviabilizou a platina para novos jogadores, uma decisão que muitos fãs consideram um desrespeito.
A Warner, que investiu pesado em Batman: Arkham e outras franquias, pareceu tratar Mad Max como um projeto secundário. O contraste é gritante: enquanto a série Arkham recebia expansões e edições definitivas, o título pós-apocalítico foi deixado à deriva, mesmo com potencial para uma sequência ou maior exploração de seu universo.

Esse abandono não apenas limitou o alcance do jogo como também alimentou a narrativa de injustiça que o cerca até hoje. Quase dez anos após seu lançamento, Mad Max se destaca como uma das representações mais fiéis e envolventes do universo criado por George Miller.
Seu deserto vivo, seus sistemas de combate e corridas inovadores e sua atmosfera de desolação são testemunhos do talento da Avalanche Studios. Mais do que um tie-in, o jogo é uma experiência standalone que expande a mitologia da franquia com respeito e criatividade.
A Warner Bros., no entanto, falhou em reconhecer esse mérito. O abandono do suporte pós-lançamento e a falta de visão para capitalizar seu sucesso tardio como clássico cult são máculas que precisam ser revistas.
Em uma era onde remasterizações e relançamentos são comuns, Mad Max merece uma segunda chance — talvez com servidores restaurados, DLCs liberados ou até uma continuação. É hora de corrigir essa injustiça e dar ao jogo o lugar que ele conquistou no ranking dos grandes títulos pós-apocalípticos. O Wasteland, afinal, ainda tem muito a oferecer.