Sol Nascente: Ghost of Tsushima e o prelúdio dos samurais no Japão
De meros servos à classe dominante do país, guerreiros e seu código de honra marcaram época e são reconhecidos até hoje
Ghost of Tsushima tem tudo para ser mais um exclusivo “daqueles” no PlayStation 4. Com uma Jogabilidade polida, gráficos deslumbrantes e, claro, um enredo cheio de nuances atrativas aos jogadores. Abordando um período histórico “esquecido” pela indústria do entretenimento, os desenvolvedores da Sucker Punch prometem entregar uma aventura épica.
Pensando justamente nessa falta de referências mais populares sobre o Japão do Século XIII, o MeuPlayStation preparou uma série especial para contextualizar os leitores antes da chegada do Fantasma de Tsushima ao PS4. É a “Sol Nascente”, que tem aqui o seu primeiro capítulo – a história dos samurais; personagens que já estão presentes no imaginário popular.
Mas você conhece a real história deles? Sabe que, inclusive, o período histórico em que Ghost of Tsushima se insere, é praticamente o prelúdio dos samurais como guerreiros? Vem que nós vamos te contar tudo!
Aquele que serve
Inicialmente, o samurai era apenas um servidor civil do império japonês, atuando tanto como cobrador de impostos quanto como uma espécie de “administrador de terras”, ou daimyō. Foi no Século VIII que essa casta começou a ser formada, mas apenas no final do Século XII que os guerreiros que conhecemos hoje surgiram.
O início do Período Kamakura, primeiro governo militar do Japão, foi o que transformou esses servos leais em soldados. Todos guiados por um código de honra chamado Bushido, o caminho do guerreiro. Desenvolvido nos Séculos IX e XII, ele ensinava as principais características de um samurai, baseadas principalmente na honra. Iremos abordá-lo, em detalhes, mais abaixo.
O termo samurai significa “aquele que serve”. Portanto, a sua função era simplesmente essa: servir seus imperadores, com lealdade e empenho. Começaram como “ajudantes” e viraram “guerreiros”. Em troca disso, recebiam diversos privilégios, como terras e/ou pagamentos, que geralmente eram efetuados em arroz, numa medida denominada koku (200 litros).
Mas nem todo samurai tinha essa glória. Muitos acabavam não ligados a um clã ou daimyō (senhor de terras) e eram chamados de rōnin (“homem onda”). São desempregados ou que largaram a honra e não cumpriram com o seppuku (ato de repor a honra do clã ou família por meio do suicídio, também conhecido como haraquíri).
Houve um dado momento do xogunato em que cerca de 3 a 8% da população japonesa era de samurais. Únicos que podiam andar armados, eram os responsáveis por manter a ordem, e só estavam abaixo dos nobres, senhores feudais e grandes líderes militares na sociedade. Para se ter uma ideia, eles podiam matar qualquer “inferior” que lhes desrespeitasse.
E é justamente nos primeiros anos dessa nova realidade que se passa a história de Ghost of Tsushima – cujo protagonista é um samurai. A aventura acontece durante as (tentativas de) invasões mongóis à Terra do Sol Nascente, em 1274 e 1281. Mas essa história vai ficar para uma próxima etapa do nosso especial.
Bushido
Talvez a característica mais marcante de um samurai seja sua lealdade. Miyamoto Musashi já dizia: “A vida de alguém é limitada; a honra e o respeito duram para sempre”. Para os samurais, isso era mais do que ética ou noção de convivência. Era uma lei. O Bushido, um código de honra levado à risca por todos esses guerreiros, que tinha como pilares:
- GI (義?) – Justiça e Moralidade, Atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar;
- YUU (勇?) – Coragem, Bravura heroica;
- JIN (仁?) – Compaixão, Benevolência;
- REI (礼?) – Polidez e Cortesia, Amabilidade;
- MAKOTO (誠?) – Sinceridade, Veracidade total;
- MEIYO (誉?) – Honra, Glória;
- CHUU (忠?) – Dever e Lealdade.
Os guerreiros prezavam por sua honra, imagem pública e seus ancestrais acima de tudo, até das próprias vidas. Era comum escolher a morte ao invés do fracasso. Quem nunca ouviu falar do haraquirí? Uma técnica de suicídio, em que o samurai abria o próprio ventre com uma espada ou faca, caso derrotado em batalha ou desgraçado por outra falha.
Uma morte lenta, dolorosa, mas que ele teria que aguentar com o maior autocontrole possível, para evitar ser lembrado com vergonha pelos que assistiam. Por outro lado, quem obtivesse o êxito nos campos de batalha saía de cena como herói, com a(s) cabeça(s) do(s) derrotado(s) e, certamente, uma grande recompensa de seus daimyo, que lhes davam terras e mais privilégios.
Ou seja, a vida de um samurai não era fácil. Mas talvez seja por isso que até hoje eles sejam sempre lembrados não só como uma das classes de guerreiros mais difícil de ser derrotada da história, mas também por sua nobreza em combate e disciplina. Provando que até em meio ao caos e à violência, é possível manter a honra.
E nós podemos ver isso claramente no trailer de história de Ghost of Tsushima. O enredo tem total base na lealdade. O “Fantasma”, que é o protagonista, jura fazer o possível e o impossível para se vingar dos mongóis que invadiram sua terra natal, a Ilha de Tsushima – que foi capturada por Kublain Khan e companhia (na vida real também). Mas, de novo, história pra outro artigo…
Armadura
Algo tão famoso quanto a dedicação dos samurais na batalha é a armadura tradicional desses soldados japoneses. É claro que há variações, especialmente dependendo do período histórico, ou até mesmo do gosto de cada um, mas o equipamento era composto, basicamente, por esses seguintes trajes:
- Suneate: Duas lâminas verticais presas na tíbia por juntas ou correntes.
- Haidate: Protetor de coxas, com lâminas de metal ou couro.
- Yugate: Luvas de couro.
- Kotê: Protegiam os antebraços e punhos; de tecido, couro ou metal.
- Dô: Protetor para o abdômen.
- Kusazuri: Um tipo de saia de lâminas de metal e um cinto de couro, amarrados no Dô, para proteger o quadril e as coxas.
- Uwa-obi: Cinto de linho e algodão que amarrava o Dô.
- Sode: Protetor de ombros de lâminas de metal.
- Hoate: Máscaras, que variavam conforme o período.
- Kabuto: Capacete, que também variava, e simbolizava o poder e status do samurai.
- Horo: Capa de seda que era aparador de flechas e tinha o brasão do clã do guerreiro.
As máscaras e capacetes tinham um tratamento especial, porque elas eram também um símbolo do respeito do samurai pelas batalhas e pelos adversários. Afinal, caso fossem derrotados, eles teriam suas cabeças cortadas pelos vencedores. É algo, digamos, brutal, mas que também fazia parte do código de honra deles.
Ainda não há muitos detalhes sobre como será essa questão em Ghost of Tsushima, se haverá customização, seja cosmética ou de evolução do personagem, mas um fato é que podemos ver, claramente, os detalhes das armaduras do Fantasma nos trailers mostrados até agora. Isso, sem dúvida, é parte da identidade do protagonista. Pelo menos, no começo.
Afinal, Jin foi criado e treinado segundo os caminhos dos samurais. Porém, quando os mongóis invadem sua terra, ele se depara com a decisão mais difícil de sua vida: honrar as tradições e os costumes de sua criação, travando uma luta que não pode vencer, ou desviar-se desse caminho para proteger a ilha e seu povo a qualquer custo.
“Em sua jornada para recuperar Tsushima, Jin deve buscar os conselhos e o apoio de velhos amigos, além de novos e improváveis aliados. Ele precisa se desapegar das tradições para se tornar um novo tipo de guerreiro e proteger o que restou de seu lar, custe o que custar”, diz o site oficial de Ghost of Tsushima.
Samurais no Entretenimento
Não vamos falar muito do final da Era dos Samurais, porque ele, normalmente, é o período da história antiga do Japão mais famoso na indústria do entretenimento. Seja em filmes ou até em games. Normalmente, essas obras são dos anos 1500 a quase 1900, quando a era se encerrou.
É até bacana estar inserido nessas histórias, mas o que acontece em Ghost of Tsushima é uma prequel disso tudo. É antes de os Samurai já serem tão consagrados assim – e sim mostrando o caminho que eles tiveram, cheio de sangue, suor e lágrimas, até alcançarem esse posto.
Foram séculos como referência de guerreiros ao mundo e de domínio da sociedade japonesa, e tudo praticamente começou aqui, no Xogunato Kamakura. O Japão Feudal, mostrado de forma nunca antes vista, no próximo grande exclusivo da PlayStation.
Não sabe do que se trata? Fique tranquilo, vamos falar tudinho sobre ele no próximo artigo da série Sol Nascente. Acompanhe conosco!