Death Stranding: deus, louco, comum… Quem é Hideo Kojima?
Saiba mais sobre a história do polêmico produtor japonês
Nosso segundo artigo do especial O Que Esperar de Death Stranding não era esse. Era para eu estar escrevendo sobre fatos que a comunidade acredita já serem certos pro jogo. Mas um debate nos comentários da primeira matéria que fizemos chamou a minha atenção. Mais do que o game, todos falavam dele: Hideo Kojima.
Mente por trás do enigmático jogo que promete chegar para revolucionar essa indústria gamer, o japonês é uma figura que divide opiniões no mercado. Para uns, é quase uma divindade. Mas há quem o veja também como um produtor bastante supervalorizado. E, claro, tem até quem seja um pouco indiferente ao seu nome.
Por isso, resolvemos falar um pouquinho dele. Contar sua história, relembrar os games que criou e abordar as referências de suas obras. Sem falar no seu comportamento na Internet. Tudo isso, direta ou indiretamente, tem tudo a ver com o que estamos vendo e esperando de sua nova empreitada, Death Stranding.
Uma história de cinema
A relação de Hideo Kojima com o cinema, que hoje todo mundo que o acompanha sabe que é muito intensa, começou muitos anos atrás, quando ele ainda era um menino, que saiu de Setagaya para Osaka aos quatro anos de idade. Afinal, ele era de “uma família que via muitos filmes e não lhe deixava ir dormir antes de acabar de vê-los”.
Aos 13 anos, após duas mudanças de cidade e o falecimento do seu pai, ele teve que se virar muito cedo. Ele saia da escola e ia para a casa, onde ficava sozinho. E depois de crescer um pouco, teve que começar a fazer mais trabalhos braçais do que realizar seu sonho de viver de sua criatividade. Afinal, era mais fácil de se sustentar assim.
Como um jovem adulto, Hideo começou a estudar Economia na faculdade e, no tempo livre, escrever textos para revistas – que nunca os publicavam por serem muito longos. Além disso, ele também jogava muito videogame, especialmente o Famicom. E depois de até fazer uns filmes com um amigo que tinha uma câmera 8mm, ele teve uma ideia.
Por que não juntar essa criatividade e o sonho de trabalhar com filmes com seu maior passatempo, os games? Era um meio novo, sem a certeza financeira que a economia ou até mesmo o cinema poderiam trazer, e por isso ele encontrou uma resistência dos amigos. Mas sua mãe o apoiou e ele foi atrás do seu sonho.
Começo difícil na Konami
Inspirado por Super Mario Bros, The Portopia Serial Murder Case e Hydlide, sucessos nos anos 80, Kojima conseguiu sua primeira oportunidade em 1986 na Konami MX, já com 23 anos. Ele atuou como planejador e designer da divisão de PCs da empresa, e não ficou muito feliz com isso.
Ele queria mesmo era trabalhar na Nintendo e desenvolver novas mecânicas para dar um novo ar ao gameplay e às paletas de cores dos games. Muita gente não dava bola para o que ele falava e ele pensou até em se demitir da Konami, mas aguentou firme – até que uma oportunidade apareceu.
Ele trabalhou em Penguim Adventure, sequência de Antarctic Adventure, como diretor assistente, e foi muito bem. Adicionou mais elementos de ação e RPG, novos níveis e múltiplos finais. Depois, desenvolveu um plataforma chamado Lost Warld, que acabou sendo rejeitado pelos diretores da Konami.
Até que apareceu o projeto Metal Gear, e sua vida mudou. Ele assumiu o comando do desenvolvimento do game, mudou o foco do gameplay para o conceito que se tornou grande marca da série, o stealth, e o jogo foi lançado com sucesso no Japão, e parte da Europa, em 1987.
Boom nos anos 90
Ainda nos anos 80, ele desenvolveu Snatcher, jogo de aventura futurista que foi visto por muitos na época como revolucionário em termos de storytelling e visual, mas seu grande boom é na década de 90. Com um spinoff de Snatcher, SD Snatcher, e Metal Gear Solid 2, ele começou bem aquela temporada.
Só que ele estourou mesmo em 1998, quando Metal Gear Solid chegou ao PlayStation. Com gráficos 3D e dublagem pela primeira vez na história da série, o game foi não só um sucesso, como tornou-se um marco para jogos em terceira pessoa. Ali, nascia, de fato, o mito Hideo Kojima.
Atuando como diretor, produtor, escritor e game designer, ele foi a grande mente por trás daquele sucesso. E, a partir de então, tornou-se a cara da franquia Metal Gear, lançado jogos da série anualmente, de 1999 até 2015 (exceto em 2003). Nem todos foram tão aclamados quanto o primeiro, mas sempre bastante comentados.
Especialmente Metal Gear Solid V, seu game mais recente, que foi “dividido em duas partes”: Ground Zeroes, que era praticamente um teaser, e The Phantom Pain, o jogo completo. Apesar de dividir opiniões quanto à qualidade final, ele marcou bastante os jogadores, porque foi a despedida de Hideo Kojima da série e da Konami.
https://youtu.be/lt2K45vwTM4
P.T., Silent Hills e Death Stranding
A conturbada saída de Kojima da empresa japonesa foi histórica por alguns motivos. Primeiro, o cancelamento de Silent Hills. Um survival horror que muita gente estava aguardando há muito tempo – e que ganhou até um teaser espetacular chamado de “P.T.”, que foi um sucesso na PSN, mas depois teve que ser deletado.
Depois, porque motivou Hideo a criar a sua própria empresa: a Kojima Productions. Uma companhia que nasceu usando o conceito de Homo Ludens, que trata o jogo como algo inato ao homem, e prometendo trabalhos com capacidade de criar uma experiência de jogo revolucionária, além dar a ele toda a liberdade.
Daí nasce Death Stranding. Um jogo que, assim como Kojima, divide opiniões, mas está sempre sendo comentado – e olha que nem foi lançado. O japonês já falou em diversas ocasiões que ele quer quebrar paradigmas e gerar uma experiência muito diferente com a aventura de Sam Porter Bridges.
Mas como vai fazer isso? Só ele sabe. Mas, talvez, algumas dicas estejam em suas obras anteriores, e até mesmo nas referências às quais ele fez tantas menções nos posts frequentes de suas redes sociais. Conhecer sua história e seus gostos é algo muito importante para (tentar) entender (um pouco) de sua loucura/genialidade.
Inspirações de diversos tipos
Anime, literatura e cinema. Dos mais variados tipos. Tudo isso influencia e inspira a obra de Hideo Kojima. E quando você passa a ter acesso ao que ele posta em suas redes sociais, por exemplo, nota isso claramente. Quase todo dia ele publica alguma foto do que está lendo ou assistindo.
Basta olhar seus jogos para ver que são todos cheios de referências. Snatcher é Blade Runner, O Exterminador do Futuro e todos aqueles filmes hi-tech dos anos 80. Toda a construção de Snake, protagonista de Metal Gear, também tem inspirações: seu nome mesmo é baseado em Snake Pilssen, de Escape from New York.
Filmes como The Great Escape, Full Metal Jacket e, claro, a série de James Bond são outras inspirações para MGS, assim como Dawn of the Dead – destacado pelo próprio Kojima em um artigo escrito para a PlayStation Magazine. Sem falar nos animes com robôs gigantes, como Akira e Evangelion, em jogos como Zone of Enders.
Sem falar na literatura. Ele mesmo classifica autores como Kobo Abe, Ryu Murakami, Yukio Mishima, Kazuaki Takano, Project Itoh, Yasutaka Tsutsui, Seicho Matsumoto, Richard Levinson, William Link e Paul Auster como alguns de seus principais “ídolos” nessa área, que também serve como inspiração para seus trabalhos.
Back from E3. So exausted, but I had some work done and watched DE PALMA. Being attracted by VERTIGO, he talks about all of his works including his debut film, "PASSION". I sympathized w/his loneliness of being a genious creator, battle with box office, and conflict with media. pic.twitter.com/vEJFWZeH80
— HIDEO_KOJIMA (@HIDEO_KOJIMA_EN) June 19, 2018
Só um dos posts de Kojima…
Muito além de Metal Gear
Já citamos alguns jogos de Hideo Kojima, mas é importante frisar que a carreira dele vai muito além de Metal Gear Solid. Além de tudo o que já falamos, ele ainda assina jogos como Boktai, Policenauts e Castlevania: Lords of Shadow. O currículo é muito extenso, e normalmente, com inovações e avaliações positivas.
Claro, nem tudo é perfeito. Snake’s Revenge, de 1990 para o NES, por exemplo, é um jogo bastante criticado. Mas todos esses outros nomes de jogos em que ele teve uma grande participação foram elogiados à época e alguns são tratados como, realmente, inovadores em suas áreas de atuação.
Snatcher, por exemplo, é uma aula de storytelling – algo bem à frente do seu tempo no Sega CD. Boktai, no Game Boy Advance, tem um gameplay cheio de stealth, gráficos bacanas e um enredo envolvente. E Zone of the Enders: The 2nd Runner, para o PS2, que é muito melhor do que o primeiro, é verdade, brilha com seu combate intenso.
Sem falar no espetacular P.T., um teaser jogável do agora cancelado Silent Hills, que deu o que falar quando foi lançado no PlayStation 4 em 2014. Um jogo de terror com perspectiva em primeira pessoa, ele tinha vários quebra-cabeças e exigia demais do jogador, até que no fim ele conseguia revelar um trailer do jogo completo.
Qualquer que seja a sua opinião sobre os jogos, e sobre o próprio Kojima, é preciso reconhecer um fato: ele já contribuiu bastante para a indústria gamer. E agora fica a expectativa para saber se Death Stranding será mais um capítulo dessas revoluções tão comuns na sua carreira ou se vai flopar. O que você acha?
O que aprendemos para Death Stranding
Estudando a vida e a carreira de Hideo Kojima, pode-se perceber alguns padrões que todos acreditam que estarão também em Death Stranding. Como, por exemplo, o seu grande foco em narrativas. Afinal, desde pequeno, ele sempre quis fazer cinema. Nos trailers do próximo jogo, vemos isso claramente.
Não só pelos grandes atores e atrizes já confirmados, como também pela maneira de construir a narrativa. Algo também muito presente nos jogos de Kojima e, claro, que é uma realidade em Death Stranding, é o mistério. Nem tudo o que parece, é. Há muito essa brincadeira de bem e mal, com forte foco nas escolhas.
O stealth também é fundamental em vários games dele, mais destacado na série MGS, e já notamos que é uma característica primordial de Death Stranding. Sem falar na sua relação com obras que influenciaram sua vida. Já vimos várias referências a jogos e a livros/filmes nos trailers do jogo, que iremos destacar em um artigo com teorias dele.
Ou seja, podemos esperar que Death Stranding seja um jogo com a cara de uma obra de Hideo Kojima. Misterioso, envolvendo coisas reais com fantasia, focado em contar uma história, com um gameplay de mais inteligência do que força, muitos plot twists e claro, muitos Easter Eggs.
Inclusive, falaremos de alguns deles no nosso artigo de teorias de Death Stranding em breve. Antes disso, abordaremos os principais pontos que todos já acham que estarão, certamente, no jogo. Tudo isso e muito conteúdo bacana sobre o próximo game do “Kojimão da Massa” você confere no especial “O que esperar de Death Stranding”.