Until Dawn: Vale a pena?
Desenvolvido pela Supermassive Games, Until Dawn chega ao PlayStation 4 com o objetivo de causar sustos, momentos de tensão e angústia nos jogadores através de um vasto sistema de escolhas. O título atinge seus objetivos principais, mesmo que tenha cometido alguns deslizes.
Prefácio
O game narra a história de 8 jovens adolescentes que foram passar um agradável período nas geladas montanhas de Blackwood Pines, no Canadá. Lugar aconchegante, confortável, com várias opções de lazer e diversão. Um local perfeito para todos que pudessem desfrutar de momentos agradáveis.
Contudo, o misterioso desaparecimento de duas irmãs faz com que o passeio seja bruscamente interrompido. Mesmo após buscas extensivas nada foi sobre o paradeiro das jovens foi encontrado.
Um ano se passou e o mesmo grupo volta a se reunir no mesmo local como forma de manterem vivas as lembranças das amigas queridas, todavia o reencontro parece não ter sido uma ideia muito sensata.
Um psicopta ronda as montanhas e não medirá esforços para causar o máximo de dor e desespero nos jovens que só poderão espacar se trabalharem em equipe.
Para contar a história do game, foram escalados para os papeis principais um cartel de atores conhecidos dos seriados, filmes e produções cinematrográficas. Os personagens serão interpretados por: Hayden Panettiere (Heroes e Nashville), Brett Dalton (Agents of S.H.I.E.L.D.), Rami Malek (Need for Speed – Filme), Galadriel Stineman (True Blood), Noah Fleiss (A Ponta de um Crime), Peter Stormare (diversos trabalhos), etc.
O título segue a linha dos filmes de terror slashers como Sexta-Feira 13, Pânico, Halloween, Jogos Mortais entre outros expoentes mas, tem o seu brilho próprio e, na medida que o enredo se aprofunda, ele se mostra muito mais completo e intrigrante.
Os roteristas fizeram um bom trabalho na criação e narração da história que de fato prende a atenção, fazendo com que cada capítulo seja ansiosamente esperado.
Efeito Borboleta
“O simples bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo”. A frase que melhor ilustra a Teoria do Caos é a base de Until Dawn.
De acordo com esta premissa, qualquer acontecimento, mesmo que muito pequeno, pode gerar grandes consequências a longo prazo, deixando o futuro imprevisível.
A Supremassive implementou mecânicas que irão colocar o jogador frente a diversos tipos de decisões. A princípio são apenas duas frases jogadas na tela, contudo seguir por um caminho, escolher ou não uma opção terá impactos significativos no desenrolar da trama.
O jogador será constantemente questionado sobre o que responder durante os diálogos ou mesmo qual caminho seguir em uma fuga. De acordo com a opção escolhida, o título irá moldar os acontecimentos futuros.
Além dos destinos, as escolhas tem papel fundalmental na construção dos relacionamentos entre os personagens. Cada uma das seis pessoas dispõe de uma pequena lista de “atributos” como: honestidade, coragem, curiosidade, etc. Cada um destes itens podem subir ou descer de acordo com as repostas dos jogadores. Responda de maneira mais rude ou omita alguma informação e verás que os status se alteram.
O interessante do título é que uma pequena ação realmente pode acarretar em consequências futuras e nota-se claramente os resultados, deixando também aquela sensação de dúvida a respeito da opção preterida. O que poderia ter acontecido caso a escolha tivesse sido outra?
Ao final de cada capítulo, o jogador irá passar por uma espécie de consulta psiquiátrica com o estranho e incisivo Dr. Hill. Nesta sessão o médico irá fazer diversos tipos de questionamentos que podem ser usados contra o próprio jogador.
Jogabilidade e Exploração
As mecânicas de jogo são simples. Similar aos jogos mais clássicos como Silent Hill, Resident Evil (1, 2, 3) e Alone in the Dark, o game mantém uma câmera fixa que se altera de acordo com os ângulos.
Parte integrante da jogabilidade diz respeito aos Quick Time Events (QTE’s), onde o jogador deverá pressionar um determinado botão no momento exato para que uma ação seja executada. Nestas ocasiões existem alguns aspectos a se considerar: Em alguns pontos, errar um QTE não trará grandes consequências, podendo o jogador repetir o movimento, contudo em outras oportunidades os resultados de erro podem ser catastróficos, podendo causar a morte de um personagem.
Until Dawn não é um jogo somente de tomadas de decisões ou QTE’s. Grande parte da experiência se dá através da exploração de cenários. É possível caminhar ou caminhar em passo mais acelerado, enquanto se vasculha cada canto das casas, chalés, cavernas, estradas e outros locais.
Durante estes momentos o jogador poderá encontrar evidências, textos e arquivos que irão auxiliar muito no entendimento dos acontecimentos e na ligação entre os pontos chave do enredo.
Um dos objetos mais valiosos que devem ser encontrados são o Totens (uma espécie de talismã) que fornecem visões do que pode acontecer. Estes presságios são utéis para preparar os jogadores para um possível acontecimento. Destaca-se que estes eventos não necessariamente vão acontecer. Vai depender muito das escolhas dos jogadores.
Estes Totens geralmente podem ser encontrados com facilidade e cada um deles representa uma visão, podendo mostrar possíveis: mortes, orientações, perdas, perigo ou boa sorte.
Medo, angústia e sustos
A Supermassive Games trabalhou para que que o título depertasse uma série de sensações nos jogadores. A principal delas é a angústia. Escolher entre possíveis caminhos nem sempre é uma coisa boa em Until Dawn. Em alguns momentos as opções a se escolher são tão complexas e exigem mais que “bom senso” afinal, decidir se um ou outro personagem deve sofrer é algo pertubador.
O clima sombrio cria toda uma expectativa tensa. Os ambientes são escuros, sombrios e com pouquíssima iluminação. Para vasculhar os cenários o jogador deve ter em mente que algo de desagradável está para acontencer a qualquer momento.
Somado a tudo isso, os sustos dão um pouco de tempero ao gameplay. Também se inspirando nos filmes, o game traz boas doses de ocasiões onde o coração dispara, muito em virtude de uma surpresa não esperada.
Contudo, nem todos os momentos irão fazer com que o player salte da cadeira. As vezes é bastante previsível que algo irá acontecer, frustando um pouco a experiência mas, no geral o game oferece diversas ocasiões onde a surpresa é de fato algo surpreendente.
Visual
Until Dawn foi desenvolvido sobre a mesma engine gráfica de Killzone: Shadow Fall e Horizon: Zero Dawn. O estúdio realizou um trabalho de adaptação para que a tecnologia fosse compatibilizada com a proposta do game.
Texturas, iluminação, sombras e modelagem da obra são absolutamente lindas. O destaque fica por conta dos personagens que são muito bem modelados e representam com fidelidade os atores reais.
Os cenários também receberam um especial destaque. Para proporcionar uma sensação de medo onde os locais, em sua maioria, são pouco iluminados, mas muito bem detalhados e rico em objetos.
Sonoplastia
Para acompanhar o clima de suspense o game conta uma ótima ambientação sonora. Ventos uivantes, sons inquietantes e as vezes só o barulho do caminhar dos personagens são o suficiente para criar a sensação ideal para um susto.
O game conta com atores profissionais e o trabalho de interpretação está bastante convincente e de qualidade além disso, o título está totalmente localizado para o nosso idioma.
O trabalho de localização está em um bom nível, as vozes dos atores combinam com os personagens e auxiliam e muito no entendimento e desenrolar da história, entretanto o jogador pode alterar para o áudio original caso desejar.
Deslizes
O novo exclusivo não está a salvo de deslizes. Um dos principais pontos fracos do game dizem a respeito ao seu tempo de duração que é relativamente curto. O jogo pode ser finalizado entre 10h e 12h de gameplay o que pode frustar aqueles que desejam uma história mais longa.
Outro questão diz a respeito ao clima do jogo. Após uma certa evolução, o ambiente de sustos e imprevisibilidade se torna muito mais ameno e tranquilo. Fica fácil prever o que irá acontecer e até certo ponto criar bloqueios para os acontecimentos futuros, com isso os sustos se tornam quase nulos.
O tão ventilado Efeito Borboleta também não fica a salvo de empecilhos. Caso o jogador queira “matar” todos os personagens terá que se esforçar um pouco. Por mais que o player cause intrigas, faça as piores escolhas, as vezes nada de catastrófico acontece. Isso talvez cause irritação, uma vez que nem tudo no enredo é passível se alteração. Mesmo que o jogo ofereça uma opção, nem sempre ela repassa a sensação de decisão real.
Considerações Finais
Until Dawn não é um jogo de ação. Não busque encontrar na aventura da Supermassive Games algo carregado de adrenalina como em Uncharted. Pelo contrário, o título é muito cadenciado e por vezes lento, mas isso são características da própria proposta.
O game segue a mesma linha Havy Heavy Rain e Beyond Two Souls. Títulos que causam sentimentos difusos nos jogadores. Existem aqueles que adoram e outros que odeiam fervorosamente.
Também é errôneo compará-lo com The Order: 1886 que tentou criar uma pegada mais de “tiroteio cinematográfico” com requintes de QTE’s, onde falhou miseravelmente. Until Dawn, pelo contrário acerta neste quesito.
Until Dawn é indicado para aqueles que gostam de uma boa história e que tenham afinidade com o estilo de jogo que mescla filme interativo, gameplay e com possibilidades de escolhas.
Apesar de ter deslizado em alguns aspectos, o game cumpre sua proposta e oferece uma boa opção aos jogadores que desejam uma experiência distante da grande maioria dos jogos.