Por que a Sony é a única empresa a não aderir ao cross-play?
Especialista no mercado de videogames explica por que a decisão da Sony "é boa para os negócios".
Semana passada a Sony voltou a ser assombrada pela polêmica do cross-play. Enquanto Nintendo e Microsoft anunciaram que os jogadores de Fortnite poderiam usar suas contas nos dois consoles – especialmente para aproveitar a portabilidade do Switch – usuários do PlayStation 4 ficaram de fora da festa.
Donos do PS4 descobriram que suas contas estão “travadas” no console, e não podem ser utilizadas no videogame da Nintendo. O processo inverso também não era possível: uma conta registrada originalmente no Switch não funciona no PS4.
Tudo isso criou uma confusão imensa em plena E3 2018. O Polygon chegou a afirmar que as redes sociais da Sony foram tão bombardeadas com perguntas e reclamações sobre o cross-play de Fortnite que houve dificuldade para fazer a divulgação correta das atrações da empresa no evento.
Agora, um importante ex-funcionário da Sony resolveu falar sobre essa polêmica. John Smedley, que é o ex-presidente da Sony Online Entertainment, fez algumas declarações no Twitter sobre quais seriam os motivos para a PlayStation nunca aderir ao cross-play.
Segundo Smedley, a razão era simplesmente esta: dinheiro.
https://twitter.com/j_smedley/status/1008847050744578050
“Quando eu estava na Sony, eles diziam internamente que a razão para isto era dinheiro. Eles não gostam que alguém compre algo no Xbox e depois use no PlayStation. Simples assim. Razão estúpida, mas é essa aí.”
A Sony já teve que lidar com comentários negativos sobre a ausência do cross-play antes em games como Minecraft e Rocket League. Na época, Jim Ryan, chefe de marketing global da Sony, declarou que a decisão da empresa envolvia segurança, a falta de controle e “exposição de crianças a um ambiente não controlado” fora do PS4, ao falar especialmente sobre Minecraft.
O analista e pesquisador em economia dos videogames Karol Severin falou com o MCV sobre a polêmica decisão da Sony. Para o especialista, o posicionamento da empresa é “o melhor para os negócios”.
Severin aponta que, apesar de a Sony ser a líder de vendas de consoles, o mercado não está mais expandindo: “Como a compra de consoles não está crescendo, a competição está em convencer os proprietários atuais de outras plataformas em trocar para uma empresa rival em uma próxima geração”.
E é exatamente por isto que a Microsoft e a Nintendo mantêm a abordagem de arriscar mais e tentar fazer parcerias. O objetivo é mostrar aos usuários de PlayStation as vantagens de suas próprias plataformas.
Severin continua:
“A PlayStation tem o maior ecossistema de consoles aí fora, mas sabe que o crescimento da parte não relacionada a hardware está indo em direção a monetizar o engajamento dos usuários existentes ao invés de esperar o crescimento no número de usuários. Desta forma, a Sony precisa proteger sua liderança em base de usuários a qualquer custo”.
Em seguida, Severin responde à pergunta que nos fizemos em nosso artigo anterior sobre o assunto. Por que a Sony tomaria uma decisão que deixa seus usuários insatisfeitos? A resposta do especialista é simples: A Sony perde muito menos com clientes irritados do que aderindo a uma política que só traz benefícios aos seus concorrentes.
“O cross-play melhora a experiência para usuários do Xbox e os ajuda a diminuir a diferença. Isso faz com que seja conveniente para a Microsoft estimular o discurso do cross-play e colocar a Sony e sua resistência no foco da coisa, em uma tentativa de capturar uma fatia do mercado de fãs insatisfeitos.
No entanto, a verdade é que a Sony não está construindo um muro porque quer irritar jogadores, mas simplesmente porque há incomparavelmente menos ganho para eles em cross-play do que para a principal concorrente. Na verdade, seria perder parte de sua vantagem competitiva atual.”
As palavras do analista parecem duras quando estamos no ponto de vista do cliente ou fã da marca PlayStation. Ao mesmo tempo, o que vemos é um jogo de lobos em pele de cordeiro.
Nintendo e Microsoft também não necessariamente estão colocando seus usuários em primeiro lugar, só querem expandir suas fatias de mercado agradando mais aos seus próprios clientes e mostrando suas vantagens ao público da concorrência. Enquanto isso, a Sony senta acomodada e confortável no trono de quem é o campeão de vendas de consoles e de base de usuários da atual geração – posição esta de quem não precisa se preocupar em agradar a gregos e troianos.