Knack 2: Vale a Pena?
Knack 2 se destaca em jogatina cooperativa.
A oitava geração parece ser destinada, além de nos oferecer grandes títulos, a resgatar gêneros que fizeram muito sucesso no passado, mas que ficaram um pouco de lado frente aos poderosos blockbusters cinematográficos.
Uma dessas ‘volta dos que não foram‘ são os jogos de plataforma. Após uma excelente releitura de Ratchet & Clank, o retorno glamouroso de Crash Bandicoot e o competente Sonic Mania, eis que o PS4 recebe Knack 2. Não que Knack seja algo vintage, mas o game surfa na mesma onda destes e se aproveita bem do momento para tentar (re)conquistar um lugarzinho no coração dos fãs.
Knack 2 na verdade é a “sequência que ninguém pediu“. E isso já tira do título um fardo imenso, muito diferente do que aconteceu com o primeiro de 2013 que era um dos jogos de lançamento do PS4 e tinha, por obrigação, mostrar o potencial do novo hardware. O resultado você sabe, não foi dos melhores.
Sem esta responsabilidade, a equipe contou com mais liberdade criativa, mais tempo de desenvolvimento e o poder de dar ao game o que ele precisava: profundidade e variedade.
E longe dos holofotes, sem que você espere muito dele, Knack 2 acabar surpreendendo bastante e mostra que Mark Cerny, arquiteto chefe do PlayStation 4 e diretor do jogo, ouviu as reclamações e pôde, novamente, mostrar seu talento na criação de experiências plataforma.
O monstrinho das relíquias, embora não seja tão carismático, conta agora com um saboroso título recheado de opções de golpes, exploração, árvore de habilidades, enredo que diverte e até algumas cenas de ação e fuga.
Some a isso as possibilidades, muito competentes, de cooperação local e você encontrará em Knack 2 um grande jogo para se divertir sozinho, com amigos e família.
Essa turminha do barulho
Mas não pense que tudo mudou. Não é bem isso que aconteceu aqui. A premissa básica do jogo de ser acessível para todos ainda continua sendo o alicerce principal da proposta. O que houve foi uma lapidação. Um dos pontos mais criticados do primeiro jogo era a dificuldade extremamente inconstante. Ora era fácil demais, ora era tão penoso quanto qualquer Dark Souls. Outro foco era a falta de variedade com um enredo pouco criativo.
Os pontos fracos, felizmente, foram melhorados, a começar pelo drama.
Após os eventos do primeiro – com Knack derrotando os inimigos e salvando a humanidade -, uma raça, aparentemente extinta de goblins, surge misteriosamente na cidade, causando caos e destruição.
Chamados de “Altos Globins”, os novos vilões são muito mais poderosos e contam com a ajuda de máquinas enormes. Recaem sobre Gundahar – líder dos duendes – as suspeitas por trás dos acontecimentos.
Knack e Lucas (assistente do Dr.) então partem em busca de informações que os levem a resolução dos mistérios e na descoberta dos verdadeiros planos dos invasores. O storytelling é muito mais elaborado com reviravoltas que, embora não sejam tão surpreendentes, tornam as coisas mais interessantes e justificáveis. Enquanto no primeiro você apenas socava os inimigos sem se importar muito com o enredo. Neste você já é conduzido com mais argumentos. Mesmo que você se sinta em uma espécie de Sessão da Tarde.
Há até uma construção de personagens, mesmo que simplória. Lucas por exemplo, você vai percebendo um pouco da sua personalidade, inflamada pelos hormônios da adolescência, e da sua necessidade de provar seu valor.
Isso reflete também no tempo de gameplay. O jogo pode ser finalizado com cerca de 13h se você jogar em ritmo normal. Mesmo que a história pudesse ter sido encerrada com umas 2 horas de antecedência sem leso entendimento-experiência, é um tempo razoável.
Para os brasileiros é sempre importante destacar a localização. Assim como no primeiro, este está todo dublado para nosso idioma e o trabalho está bem feito. Knack 2 ainda continua sendo interpretado por Luiz Feier Motta, a voz do Sylvester Stallone, que é bem divertida de ouvir.
Plataformas com temperos de Hack and Slash
Se você voltar em 2013 e se prestar a ler as avaliações de Knack, certamente vai se deparar com ostensivas críticas as mecânicas do game. Não que elas fossem ruins ou com problemas técnicos destoantes. Nada disso. Faltou variedade mesmo.
E é neste ponto que o segundo se destaca. Se em 2013 a criatura tinha um repertório muito limitado de socos e um chute, neste ele já conta com até 20 opções diferentes de ataques.
Tem até um momento onde o próprio jogo se satiriza, com uma personagem dizendo ao Knack: “É difícil acreditar que você salvou o mundo. Tudo o que você sabe são três socos e um chute“.
Mas agora ele sabe muito mais. Além de socar (claro), ele conta com investidas, bumerangues, chutes em giros, uma sequência de poderosos socos com uma espécie de hadouken no fim, uma escotilha no melhor estilo Guile do Street Fighter. Por sinal, é perfeitamente possível criar combos combinando ataques.
Isso tudo desbloqueado através de uma árvore de habilidades com quatro ramos diferentes. Conforme progresso, você coleta relíquias, utilizadas para aprender talentos e aprimorar os que você já tem.
Além disso, em baús escondidos você descobre cartas que servem para equipar outras habilidades importantes como a possibilidade de voltar no tempo após uma queda, atordoar inimigos e até saber a ‘barra de life‘ com um rastreador no estilo Dragon Ball Z.
Outras variações, com o personagem sendo capaz de coletar relíquias de gelo, metal ou mesmo ficar refletivo são utilizadas em várias partes. Com Knack de gelo você pode congelar temporariamente os pés dos inimigos. Com o de ferro você resolve até puzzles de energia (conectando e energizando pontos), com o reflexivo você progride em partes mais vigiadas e assim por diante. As adições são bem aplicadas em elementos de jogabilidade.
Algo legal é a possibilidade de aumentar e diminuir o tamanho do improvável herói a qualquer momento. Coletando relíquias, seu personagem cresce podendo ficar até na medida de um prédio. Mas você pode diminuí-lo para acessar outras áreas. Jogo alterna muito bem estes momentos, mesclando os estilos.
Knack 2 está muito variado neste quesito.
Isto por si só já ajuda a resolver um outro problema do primeiro. A repetitividade. Como você tinha pouquíssimas opções, o gameplay logo se tornava enfadonho. Neste não. Você está sempre vasculhando os cenários em busca de relíquias e testando suas novas habilidades, criando combinações mais eficientes.
Auxilia ainda, a melhor distribuição de inimigos. São variados e exigem que você os aborde de maneiras diferentes. Não são somente goblins. Máquinas, monges, outras relíquias e muito mais. Além disso, você poderá assumir o controle de outros robôs, tanques e até um avião em determinadas partes. Cada qual com suas mecânicas.
E fica claro ainda que o game conta com fortes inspirações em outros títulos. Talvez pela experiência de Mark Cerny que já trabalhou em dezenas de jogos de sucesso, Knack 2 vem com partes de plataforma muito mais competentes que no primeiro.
Saltar de plataformas em movimento no tempo certo, escapar de armadilhas, navegar entre trechos estreitos e muito mais. O jogo não exige a precisão carrancuda de Crash Bandicoot N. Sane Trilogy, mas vai esperar que você tenha cuidado na navegação, mesmo com os novos movimentos do personagem como um giro no ar que facilita o ‘pouso’.
Não só o clássico da Naughty Dog serviu como exemplo. God of War (era PS3) da Santa Monica virá certamente à sua lembrança ao desfrutar do game. Tanto nas mudanças de perspectivas de câmera, quando nos combates. Você vai sentir um pouquinho do sabor dos tempos áureos de Kratos dilacerando seus inimigos. Impulsionado ainda pelos momentos de ação com o uso, até certo ponto abusado, de quick-time-events.
Vale ressaltar que o script do jogo foi roteirizado por pessoas que já trabalharam em vários jogos da saga God of War, da Santa Monica. Quiçá as influências não são mero acaso.
Já o nível de dificuldade não oscila como no primeiro. O jogo (na dificuldade normal) foi claramente desenhado para você se divertir descompromissadamente, sem vontade de atirar o DualShock 4 pela janela. Para quem não se lembra ou experimentou, Knack 1 era punitivo ao extremo em determinadas partes. Bastava dois golpes do inimigo para você morrer.
Por fim, os quebra-cabeças. Não são muito complexos – na verdade são bem facinhos -, contudo auxiliam na diversificação da aventura e na exploração dos cenários. Mesmo se você enroscar em algum, um sistema literalmente desenha a solução.
O que não se destaca tanto são os visuais. Houve uma melhoria aqui, um polimento ali, um aprimorando de texturas acolá. Mas nada que faça você se impressionar. Na verdade o design de personagens por exemplo é bem pobre.
Os próprios níveis são limitados. Apesar de contarmos agora com áreas um pouco mais amplas, elas ainda são lineares e com bloqueios físicos pouco criativos. Às vezes só é preciso liquidar com os inimigos para a passagem ser liberada automaticamente.
Dupla de Dois
No primeiro jogo já havia um co-op local, mas era estranho. Na tela ficavam um Knack ‘normal‘ e um outro personagem que parecia uma aberração do primeiro. Tudo muito secundário e sem personalidade. Parecia que foi feito às pressas e sem muito cuidado.
Já no segundo a situação é outra.
Você deve ter notado que grande parte das propagandas do jogo eram destinadas ao co-op e isso não foi por acaso.
Jogar com um amigo localmente está bastante sólido. Agora aparecem dois Knacks na tela e ambos podem fazer ataques combinados específicos, combater mais facilmente os inimigos, principalmente os maiores e até transferir relíquias de um para outro, ficando um personagem maior que outro.
Isso é particularmente interessante na resolução de alguns enigmas que envolvem o alcance de plataformas superiores. Seu amigo pode ficar maior e acionar uma alavanca por exemplo, destravando uma passagem. Jogando sozinho, neste mesmo caso, seria necessário dar uma grande volta, empurrar umas caixas e só então chegar na chave de abertura.
Muitos podem argumentar que, na companhia de amigos, até atirar pedrinhas em um lago pode ser extremamente divertido, mas senão for implementado com primazia técnica, a diversão vai pelo ralo, restando apenas boas intenções. Não é o caso aqui. Tudo decorre muito bem, com fluidez e precisão.
Só vale menção: jogando em dupla é recomendado elevar a dificuldade do jogo para se ter melhores desafios.
Uma segunda chance para Knack
O clichê “todos merecem uma segunda chance” talvez não sirva para todas as ocasiões da vida. Mas Knack 2 merece sim uma segunda tentativa aos seus olhos.
A Japan Studios nos oferece uma aventura com variedades de golpes (você vai precisar jogar bastante para desbloquear todas as habilidades), mecânicas consistentes, muitos lugares secretos – mesmo que sejam óbvios – e um ótimo co-op que pode ser ativado sem burocracias a qualquer momento da jogatina. Basta ligar o segundo DualShock 4.
É bem verdade porém que o título não é imune a falhas como um posicionamento ruim de câmera às vezes. Como ela é fixa, em determinadas situações fica travada, forçando o jogador a progredir, mesmo que queria voltar um pouquinho para coletar itens.
Também foi notado a presença de um bug estranho. Em dado momento, um bloco que serviria para escalar até uma plataforma foi movido além dos seus limites e acabou ‘entrando na parede‘, impedindo a continuação. Nada que um restart não resolva, mas aconteceu.
E mesmo que você tenha percebido que ‘variedade’ foi uma palavra-chave exposta no texto, o jogo se aproximou perigosamente da reincidente repetitividade. Foi salvo pelas quebras de ritmo dos QTEs, mas se mais longo fosse, certamente seria um agravante.
Mas Knack 2 é um jogo para todos, daqueles que você tem que ter em sua biblioteca. Para você que gosta de aventuras plataformas – vai encontrar aos montes aqui -, para família – um título descompromissado – e para jogar com amigos. E a conclusão marca a abertura do New Game + e novos modos com tomadas de tempo e até uma espécie de horda. Tem conteúdos extras que prolongam a vida do game.
Veredito
Knack 2
Sistema: PlayStation 4
Desenvolvedor: SIE Japan Studio
Jogadores: 1 ou mais
Comprar com DescontoVantagens
- Boas variedades de golpes
- Bom jogo para a família
Desvantagens
- Câmera ruim em certos momentos
- Um bug atrapalha a experiência