Concord: vale a pena?
O Hero Shooter da PlayStation acaba de chegar ao PS5 e já tem seu primeiro grande desafio: vencer a desconfiança
A casa das grandes narrativas single-player como The Last of Us, God of War, Ghost of Tsushima, Horizon, de olho nas enormes cifras, resolveu apostar em Concord, um projeto multiplayer com forte viés de GaaS (game as a service), que pretende capturar a atenção dos jogadores em partidas competitivas.
O sucesso recente de Helldivers 2 pode ter alimentado algumas esperanças, mas, no frigir dos ovos, deu quase tudo errado com o jogo da Firewalk Studios.
Concord não deve atingir seus objetivos não por conta do hate um tanto quanto exagerado ou, quem sabe, por ser pago. Mas sim porque não reúne algumas das principais características para simplesmente ser um bom jogo de videogame. E, no fim do dia, isso é o mais importante.
Vamos lá, tentar entender um pouco mais de Concord, seus pontos positivos – ele tem alguns! -, negativos e motivações.
Concordamos em discordar
Logo de início, somos convidados a assistir a uma cutscene muito bonita, com personagens que parecem ter saído diretamente de uma alguma variante de Guardiões da Galáxia. Somos parte da Estrela-do-Norte, um grupo de mercenários em busca de glórias e espólios. A ideia é bastante simples: enfrentar outras tripulações.
E por aqui, nós jogadores, ficamos sem entender muitas coisas. Quem são estes personagens? De onde eles vêm e quais são suas motivações? Fazemos parte do quê exatamente? A introdução falha miseravelmente a nos contextualizar e a capturar o nosso interesse.
Boa parte da narrativa é contada em forma de texto no Guia Galáctico, porém é tudo desinteressante e pouco intuitivo.
Se você não tivesse visto gameplays por aí, não saberia identificar que se trata de um Hero Shooter online, com diversos personagens atirando uns nos outros. O jogo parte do pressuposto que tudo é muito claro. Isso não seria exatamente um problema se houvesse mais criatividade nas explicações. Obviamente, há jogos que não precisam disso, como EA FC. Você sabe exatamente o que vai encontrar só pela capa. No caso de Concord, valeria detalhar melhor.
São 16 opções de heróis, cada um bem diferente do outro, com suas habilidades únicas, focadas em satisfazer um elemento do combate. É ideal ter um tanque, suporte, curador, atirador…etc no esquadrão. A proposta aqui é formar uma equipe coesa, focada em objetivos. A vitória é só uma consequência das ações coordenadas do time.
Com partidas rápidas e bem sólidas, Concord vai muito bem no quesito curva de aprendizado e gunfight. Os tiroteios são bem legais, fluidos e bem otimizados. Para um shooter online, acertar por aqui é um grande passo.
Aliado a isso, temos os ótimos visuais, uma sonoplastia exemplar e grande variação de Freegunners – heróis. Cada personagem é bem específico e único. Então vale experimentar cada um deles e entender suas mecânicas, pontos fracos e vantagens. E já dá para dizer que existem os “roubados”…aquele odiado por todos, capaz de desequilibrar os combates. Nada que um update não resolva.
Por outro lado, a boa primeira impressão é ofuscada por problemas conceituais e estruturais graves. São seis modos de jogo, divididos em três categorias: Pancadaria (Team Deathmatch e uma espécie de Baixa Confirmada); Superação (capturar objetivos); Rivalidade (rodadas competitivas sem ressurgimento).
Pancadaria é meio que auto explicativo. Basta apenas matar a maior quantidade de inimigos possíveis. Nos de equipes, é esperado que seu time trabalhe em conjunto para conquistar a vitória.
Só que as coisas, quase sempre, não tomam a ordem correta. Os times não trabalham focados na conquista dos pontos, preferindo liquidar com os adversários. Isso é bem frustrante. O cenário ideal seria ter um esquadrão de amigos “fechado”, só que isso não vai acontecer por um motivo bastante simples: quem você conhece que comprou o Concord? Em outras palavras, nossos amigos estão jogando outras coisas, o que, estruturalmente, faz com que o game se torne pouco atrativo.
Por fim, o Rivalidade. A opção menos divertida. Como não há ressurgimento, os objetivos, definitivamente, não importam. Apenas mate os adversários e fim. As partidas duram poucos minutos.
E quando a rodada acaba, o jogo volta para tela inicial, obrigando o jogador a selecionar novamente um modo, aguardar encontrar outra partida, escolher seu herói…e, finalmente, voltar a jogar alguns minutinhos.
Concord não tem um sistema de matchmaking decente, que deveria emparelhar os jogadores e buscar novas rodadas automaticamente. Você simplesmente volta para o menu por perder uma opção de re-entrar na fila, desmotivando ainda mais a continuidade.
O que não dá pra fazer, também, é virar uma partida. Há um claro desequilíbrio entre os personagens. Alguns morrem extremamente rápido, outros são pesados demais e os de suporte só carregam o nome.
Somado a isso, não há uma Ult (Ultimate Ability). Aquela habilidade capaz de mudar os rumos da partida ou mesmo te salvar de uma enrascada. Então, se a equipe adversária abrir uma vantagem no placar, a partida fica praticamente perdida.
Se tudo isso não bastasse, os mapas contém falhas de design. Eles são excessivamente grandes e mal projetados. Por vezes, será necessário andar por bons segundos até encontrar um pouco de ação. Caso seu herói seja um tanque…muitas vezes vai chegar mais atrasado do que alunos em dia de ENEM.
Por fim, mas não menos importante, eles, os Freegunners. Você vai esquecer deles tão logo encerre a jogatina. Sem carisma, sem história, sem identificação…desprovidos de criatividade. São apenas alguns poucos que se salvam. A grande maioria não vai inspirar cosplays ou histórias em quadrinhos.
É realmente uma pena, pois sabemos que os desenvolvedores certamente investiram esforços e muito tempo, mas simplesmente não há identificação.
É sobre comunidade
Concord é incapaz de conquistar o coração dos jogadores, seja por seus problemas conceituais ou mesmo porque já se tornou um “boi de piranha” para esta fase de GaaS da Sony. Basta uma olhada rápida nas redes sociais e ver o quão baixa é a recepção ao game. Ele já conquistou pra si as más energias e vai ser muito difícil reverter o caso. Não é impossível, vimos isso acontecer com Cyberpunk 2077 e até Fallout 76…só que eles tiveram público.
A carta na manga da Firewalk Studios está em não enfiar goela abaixo dos fãs Passes de Temporada, loot boxes, microtransações ou qualquer outra armadilha ardilosa de monetização. Até já existe um cronograma de atualizações, com mais histórias, personagens, mapas…etc.
Mas, mesmo assim, Concord em seu estado atual não oferece um sistema de progresso atrativo, ou algo que mantenha os jogadores jogando. As skins, por exemplo, são apenas variações de cores. Só a última é realmente uma variação, por outro lado, sinto muito em ser o portador de mais uma má notícia. Elas são terríveis.
Concord: vale a pena?
É difícil recomendar o Concord. Ainda que conte com uma jogabilidade bacanuda, belo gráficos e sonoplastia, ele tem problemas impossíveis de serem ignorados, mesmo pelo fã mais Sonysta.
Ele tem desafios hercúleos. O primeiro e maior deles, é sua barreira financeira de R$ 200. Em um mercado com Overwatch 2, com fãs muito fiéis, Valorant e seu ótimo pacote e Marvel Rivals e a popularidade colossal dos heróis da Marvel…todos gratuitos, como se destacar? Talvez se tivesse sido oferecido para membros do PS Plus, poderia ganhar mais tração.
Veredito
Concord
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Firewalk Studios
Jogadores: 1 Jogador
Comprar com DescontoVantagens
- Belos gráficos
- Ótima sonoplastia
- Boa variedade de heróis e mapas
Desvantagens
- Desbalanceado
- Sem personalidade
- Heróis esquecíveis
- Problemas conceituais
- Poderia ser free-to-play