Deus Ex: Mankind Divided: Vale a pena?
Atualmente o carro-chefe da Eidos Montreal, a franquia Deus Ex está de volta com seu novo projeto que visa manter a estrutura do título anterior e amplificar o enredo já bem abrangente em Deus Ex: Human Revolution.
O impacto gerado pelo relativo sucesso do jogo anterior fez com que a expectativa em cima de Deus Ex: Mankind Divided crescesse ainda mais.
Será que a Eidos Montreal, juntamente com a Square Enix, conseguiu atender a tais expectativas?
Conspiração, Segregação e ação
Adam Jensen está de volta em um mundo ainda mais nocivo a ele. Após o acidente ocorrido logo no início de Human Revolution, o protagonista passou por uma série de “cirurgias” e implementações que fizeram com que seu corpo ganhasse aprimoramentos que o tornaram uma espécie de super-humano, mas também trouxeram consequências drásticas.
Ainda no jogo anterior, o fato de ter um corpo cibernético ainda poderia ser considerado novidade e muitos até admiravam os “Aprimorados”, como são chamados. No entanto, devido à um incidente ocorrido no final de Human Revolution, estes seres passaram a ser desprezados e mal vistos pela sociedade.
Embora nossas escolhas influenciassem e ainda que fossem possíveis finais alternativos, Deus Ex: Mankind Divided pega um final canônico por base e segue nessa linha para contar a história do jogo.
Para não entrarmos em spoilers, digamos apenas que os aprimorados foram afetados e controlados de forma que inconscientemente causaram a morte de milhares de pessoas em uma tragédia sem precedentes na era cibernética.
Tal incidente fez com que a humanidade, já ressabiada com a abertura que davam à tecnologia, se afastasse e temesse aos seres aprimorados, que passaram a sofrer preconceito e segregação em uma nova espécie de apartheid.
É com este pano de fundo que Adam Jensen ressurge, agora trabalhando para a Interpol dois anos depois dos acontecimentos de Deus Ex: Human Revolution, para literalmente botar os pingos nos i’s e ir atrás da verdade por trás dos acontecimentos que levaram a sociedade ao estado atual em um mundo repleto de conspirações, manipulação de informação e muita ação.
Em time que tá ganhando não se mexe
Deus Ex: Mankind Divided é um jogo de tiro e ação em primeira pessoa que mescla muito bem com elementos de RPG e muito stealth, ambientado em um universo cyberpunk.
Sua jogabilidade é praticamente a mesma do Human Revolution, com pequenas, e bem vindas, alterações. Aqueles que jogaram o título anterior sentirão uma leve diferença com relação a isso. O que é muito bom!
Deus Ex: Human Revolution surpreendeu a muitos ao oferecer um jogo muito fluído e gostoso de jogar. O fator stealth era muito bem explorado e a gama de opções para lidar com os objetivos tornava cada missão ainda mais prazerosa e única.
A mobilidade no tão famoso “murinho” é muito boa e extremamente útil. Com apenas um botão é possível se encostar, o que oferece segurança e torna a visão mais ampla. Com o analógico selecionamos o lugar para onde queremos ir e, ao apertar outro botão, Jensen se locomove da maneira mais sorrateira possível. Sem traumas.
Ser descoberto e fazer com que os inimigos soem o alarme é algo não aconselhável, pois literalmente a última coisa que o jogador vai querer em Deus Ex é confrontar os inimigos em um combate aberto.
Tentar encarar tudo de frente, além de muito difícil, pode até causar frustração e fazer com que o jogador não aproveite o que o jogo traz de melhor. Mesmo nas vezes em que o próprio jogo nos expõe a estas situações, sempre há um outro caminho.
Câmeras, torretas, drones, inimigos blindados e inteligência artificial rebuscada estão presentes. Ma,s os bons e velhos dutos de ar estão de volta, maiores do que nunca, para nos reconfortar. Por isso, faça uma varredura bem feita, olhando minuciosamente cada canto e todas as opções antes de tentar uma abordagem.
Para cada um desses desafios, existe aquele computador de segurança em algum lugar onde um hack fará toda a diferença.
Hackear também é um aspecto do gameplay de Deus Ex, e este continua admirável, com todos os itens para auxiliar no hackeamento e impedir o sistema de nos descobrir.
Aprimoramentos, armas e menus
Como um aprimorado, ou primado e até mesmo latão, como é chamado, Jensen conta com um belíssimo arsenal de habilidades para lidar com seus problemas. E agindo como um agente da Interpol, este também possui uma grande variedade de armas, munições, granadas e afins.
Os aprimoramentos (tradução de augmentations na versão em português) nada mais são do que as habilidades de Jensen. Olhar através de objetos, cair de grandes alturas, pular mais alto, socar paredes frágeis, ficar invisível por um curto período de tempo e etc.
Além dos já conhecidos do primeiro jogo, agora existem os chamados “experimentais”, que são habilidades totalmente novas e muito interessantes. O legal é que existe uma troca com relação aos novos aprimoramentos.
Não é possível simplesmente ir gastando pontos de “praxis” até habilitar todos a torto e a direito pois isso irá “sobrecarregar” a carcaça do nosso protagonista.
Por isso, a medida que novos aprimoramentos experimentais são adicionados, em dado momento será necessário abdicar de algum outro que não esteja sendo utilizado para que o sistema de Adam respire aliviado e o jogo em si se torne mais balanceado. Funciona mais ou menos como uma troca justa. Uma boa sacada dos desenvolvedores.
Assim como os aprimoramentos, as armas utilizadas no jogo também contam com uma série de modificações aplicáveis. Para estas são utilizadas peças de montagem que podem ser encontradas espalhadas por todo o ambiente. Além dos já conhecidos acessórios que são adquiridos por créditos (o dinheiro do jogo) nos vendedores espalhados pelos mapas.
Devido a um leque extenso de opções para customização das armas, a princípio o menu pode ser um tanto quanto confuso. No entanto, assim como para todas as outras customizações, é facilmente adaptável com o passar do tempo e extremamente necessário para lidar com os desafios do jogo.
Os menus são muito bem projetados, organizados na medida do possível e possuem um layout até amigável. O que pode causar confusão no início é realmente a quantidade de opções disponíveis e os atalhos do controle. Por outro lado isso é fascinante e com o tempo o jogador acaba se apegando ao que realmente lhe interessa.
Panes no sistema
Deus Ex: Mankind Divided está totalmente localizado para Português do Brasil. Tudo está dublado: os menus e as legendas e tudo o mais. Ficamos sempre lisonjeados com este tipo de trabalho e sabemos o quão desafiador é.
Porém, o jogo peca justamente neste aspecto. Em dados momentos, os sons ficam abafados para dar lugar às vozes, outras vezes acontece o contrário, e isso acaba tirando um pouco da imersão. Existe uma alternância nos volumes que causa confusão.
A roleta de diálogos, uma das principais características da franquia, por vezes se torna um pesadelo. Em meio a uma conversa super interessante para a trama do jogo, você escolhe uma opção e de repente o personagem começa a falar algo totalmente desconexo, completamente fora de contexto e que claramente não deveria estar ali.
Também é comum os personagens falarem frases enormes sem ao menos abrir a boca. Quando alguém fala uma coisa enquanto a legenda mostra outra completamente diferente, é impossível distinguir o que está certo: a legenda ou a voz.
A dublagem em si é competente, talvez as escolhas para as vozes não tenham sido as melhores e os dubladores não atuem, por assim dizer, apenas falem, dando a impressão que estão apenas lendo. Ainda assim, a dublagem cumpre o seu papel.
Além do problema com as dublagens, a maior irritação que um jogador pode ter em um jogo se fez presente no período em que jogamos para a análise: a famigerada tela de erro.
Em uma ocasião, o jogo simplesmente voltou cerca de 10 minutos atrás sem explicação. Em outra, simplesmente acusou erro e fechou.
É complicado quando algo assim acontece, até porque o loading do jogo é extremamente longo. Viajar de uma estação para outra de Praga chega a ser um martírio e cada vez que o jogador morre, o jogo demora tanto para voltar que parece que Adam foi para o céu e reencarnou.
Competência visual
Em contrapartida, Deus Ex: Mankind Divided literalmente brilha quando se diz respeito ao visual do jogo.
Sofisticado, rebuscado e com zero de falhas nas taxas de quadro, o mundo do jogo, que não é tão amarelado quanto o anterior, é de encher os olhos. Andar pelas ruas de Praga a noite e parar para olhar banners, propagandas, edifícios e todos os detalhes da cidade é comum e muito revigorante até.
O mesmo podemos dizer das missões principais como a de Dubai, a missão introdutória do jogo. Nesta, invadimos um projeto de hotel que foi abandonado na cidade. Uma tempestade de areia se aproximando torna o visual ainda mais bonito.
Modo Breach
Além do modo história, temos também um novo modo chamado Breach.
Trata-se de jogo a parte que ajuda a ganhar pontos e experiência em missões curtas e objetivas baseadas em tempo e competição online.
O modo oferece benefícios, pacotes de recompensa, e até itens que podem ser usados no modo história. Além de exibir pontuação, placares, comparação, experiência, também é possível personalizar seu avatar e subir de nível, ganhar novos aprimoramentos e etc.
As missões são até divertidas. No entanto, o layout e a ambientação do modo podem causar fadiga rapidamente, o que o torna apenas um jogo casual.
Vale nossos créditos?
Deus Ex: Mankind Divided consegue pegar tudo o que Human Revolution apresentou, e elevar isso ao nível permitido pela atual geração de consoles.
Se o jogo anterior ditou um novo ritmo nos jogos de stealth, pegando referência nos principais bastiões do gênero, este consegue apresentar o seu próprio estilo e implementar habilidades e possibilidades que fazem com que o jogo ainda se torne único.
Além disso, as características de RPG, as tramas envolvendo escolhas do jogador em missões secundárias, a personalidade do protagonista, a variedade de opções para abordagem e conclusão das missões e a gama de habilidades únicas, proporcionam muitas horas de diversão no mundo cyberpunk caótico e ao mesmo tempo muito interessante e extremamente imersivo da franquia Deus Ex.
*O jogo foi cedido pela Square Enix para avaliação