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Mortal Shell: vale a pena?

Muitas ideias repetidas, poucas novidades, mas com uma boa acessibilidade

por Raphael Batista
Mortal Shell: vale a pena?

O meme “pode copiar, mas não faz igual” até pode ser um uma boa descrição para Mortal Shell. Os desenvolvedores não fizeram questão de esconder a inspiração em jogos da FromSoftware, mesmo que alguns elementos sejam réplicas ajustadas.

O ponto aqui não é exatamente a inspiração, mas a forma. É quase tudo igual mesmo: menus, dicas de gameplay, etc.

E apesar de não ser do mesmo calibre dos games da empresa japonesa, tenta apresentar ideias novas, propõe uma experiência alternativa e busca ser firmar como mais um do gênero. É um título para quem deseja entrar nesse universo hardcore, mas começando com passos pequenos. É ruim? não!

A lore segue aquela contextualização conhecida. O jogador controla um personagem “escolhido” pelo universo para transformar todo o destino. O enredo se desenrola por explicações de itens, coletáveis ou diálogos com NPCs. Afinal, o objetivo do game nem é apresentar uma narrativa aprofundada e não se dá o trabalho de construir uma narrativa. Todo universo existe como uma prerrogativa para o combate.

Vale destacar que, no caso de Mortal Shell, a ambientação construída é bem menos interessante. Há ideias com potencial, mas pouco aproveitadas, desperdiçando a chance dos jogadores ficarem cativados pela lore. Um bom exemplo vem do próprio Bloodborne, que construiu um universo rico de informações e detalhes sem ter uma história scripitada.

Faltou aquele charme para deixar os jogadores curiosos e até interessados pelas consequências das suas escolhas.

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Todo o universo possui potencial, mas é pouco explorado.

O grande ponto em entregar um jogo do mesmo gênero é que as comparações são inevitáveis. Fica aquela sensação de Déjà vú. Em Mortal Shell, as repetições são mais evidentes, mas não poderíamos deixar de destacar os conceitos novos que funcionam.

O personagem escolhido pelo jogador não tem níveis para subir, tem barras de estamina e vida pré-estabelecidas. Ao mesmo tempo, é possível adquirir habilidades muito valiosas com a XP conquistada após vencer inimigos.

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Cada Carapaça possui habilidades únicas que devem ser administradas pelo XP obtido.

O game da Cold Simmetry traz uma ideia diferente das “Carapaças”. Existem um total de quatro “cascas humanas”, cada uma delas em versões pré-estabelecidas dos heróis. O acólito possui mais estamina e menos vida, o cavaleiro é o contrário; o erudito é focado nas cargas de habilidade enquanto o nobre tem status equilibrados. Cabe ao jogador escolher quais casulos irá usar, podendo alternar entre eles após liberar a possibilidade.

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As Carapaças precisam ser encontradas e, depois, fazem parte do arsenal do jogador.

As Carapaças trazem uma ideia diferente, ainda mais com a possibilidade de alterná-las com as quatro armas variadas – desbloqueadas após derrotar os chefes que as dominam. Dessa forma, os jogadores possuem uma vasta gama de variação de habilidades, equipamentos e abordagens para cada situação do jogo. Isso traz um conforto maior, pois inimigos pesados são facilmente derrotados com um personagem com um casulo focado na estamina; enquanto um chefão difícil pode exigir um herói com uma barra de vida maior.

Outra novidade que oferece mais acessibilidade é a possibilidade de retornar às Carapaças após derrotado. Assim que a barra de vida chega ao fim, os jogadores retornam para uma forma “espectral” do personagem que possui apenas 1 ponto de HP. É preciso voltar rapidamente ao casulo para termais um chance no confronto antes de levar uma investida dos inimigos. Caso você morra na forma espectral, o jogo é reiniciado do checkpoint e, no local da morte, fica a Carapaça para dar mais vida.

Mortal Shell não esconde a intenção de dar a vitória ao jogador.

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O acólito é focado na estamina e facilita bastante o gameplay.

São ideias vistas só neste game – até o momento – e que trazem um ar especial positivo, contudo os erros durante o gameplay também se destacam e acabam fazendo um contra-peso.

Os (muitos) problemas

Como um souls-like, Mortal Shell tenta repetir o conceito do level design de áreas conectadas. No entanto, a ligação entre os cenários não acontece de modo inteligente. Existe uma área central, onde ficam os NPCs da história, e então, três direções de caminhos levam os chefes de cada região. Fácil de entender, certo? Mas a execução é extremamente confusa e não acontece de modo natural.

Além disso, você deve ter percebido que só existem três direções de caminhos, não é? Isso porque o jogo só têm quatro chefões principais. É possível concluir toda jornada em até cinco horas após ter entendido os trajetos e padrões.

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As boss fight não são muito empolgantes.

Inclusive, os chefões merecem menção: possuem visuais bacanas, a trilha sonora empolga na hora do combate, mas vêm com ataques muito previsíveis. Mortal Shell dá aos jogadores muitas formas de vencer os combates e, por isso, aquela sensação de recompensa não é tão presente. Ela existe, mas está mais para um “ok, vamos para o próximo”.

Os problemas de desempenho, infelizmente, atrapalharam. Com destaque para dois exemplo: o primeiro, um inimigo havia sido derrotado, mas “ressuscitou” na frente do personagem e o venceu e logo em seguida desapareceu ( ? ).

O segundo está relacionado aos hitboxes. Se você não está familiarizado com o termo, ele se refere à área que o personagem principal pode ser atingido pela arma inimiga. Bem, em Mortal Shell, o hitbox não é preciso. Em uma boss fight específica, há um vilão que consegue tirar dano mesmo sem tocar em seu herói. Não é uma habilidade ou super-poder, é um erro mesmo.

Mortal Shell vale seu investimento?

No fim das contas, Mortal Shell acaba tentando se posicionar como um jogo inspirado em produções da FromSoftware, mas bem mais acessível. É uma forma de se entrar neste universo sem passar por uma curva de aprendizado muito tênue.

Os problemas estão ali e é impossível ignorá-los, mas também, dá para aproveitar os conceitos reaproveitados de outros jogos juntamente com as ideias inéditas promovidas. É um game que tenta conquistar mais adeptos para a jornada hardcore e assim o faz com as limitações que possui.

O único impeditivo é o seu preço. Ainda que não seja tabelado como um AAA, ele é oferecido por R$ 124,90 na PlayStation Store. Isso pode espantar aqueles que até dariam uma chance.

Veredito

Mortal Shell
Mortal Shell

Sistema: PlayStation 4

Desenvolvedor: Cold Simmetry

Jogadores: 1

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70 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Jogabilidade acessível
  • Valor um pouco mais atrativo
  • As ideias novas são bem pensadas
Desvantagens
  • Muitas ideias repetidas
  • Curta duração
  • Problemas técnicos
  • Falta "sensação de recompensa"
  • História e lore desinteressantes
Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: Dragon Age: The Veilguard | LEGO Horizon Adventures
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.