Resident Evil 3: vale a pena?
Visual e jogabilidade impressionam positivamente, mas duração da campanha liga sinal de alerta para o leitor
Resident Evil 3 é exatamente como Nemesis, seu antagonista aclamado por mídia e público desde os anos 90: inevitável.
É um jogo que não tem como simplesmente deixar passar batido. Adaptação de um clássico para uma geração tão bem sucedida, seguindo a linha da “reimaginação” de RE2, o novo título da Capcom chega como mais um dos games que você precisa jogar no PlayStation 4. Nesse caso, não há dúvidas de que “vale a pena”.
A grande pergunta a ser feita não é essa, mas sim: “quando?”
Com tantos títulos de peso nessa reta final do ciclo do PS4, comprar um “remake” de algo lançado em 1999, que pode ser zerado em poucas horas (no modo fácil, não chegam a 4h), por um preço cheio…
Sem dúvidas, ele tem as qualidades de um título “recomendado”, mas como dizíamos na época de Meu PS4, “esperar uma promoção” parece a melhor decisão.
28 de Setembro, 20h07 – Raccoon City
Resident Evil 3 tem uma timeline bem interessante. Os eventos que acontecem em Raccoon City nesse game estão interligados com os de Resident Evil 2. Talvez, por isso, tenha feito tanto sentido para a Capcom lançar também essa nova versão do título, depois do sucesso de trazer seu antecessor para essa geração.
Para quem ainda não está familiarizado, a história gira em torno de Jill Valentine, agente da S.T.A.R.S., divisão especial da polícia local, a RPD. Ao contrário de Claire e Leon, que chegam a Raccoon após o caos tomar conta, Jill já está lá quando, de repente, a contaminação do vírus da Umbrella atinge quase todos na região.
Então ela tem um objetivo claro: fugir dali! Mas é claro que não vai ser fácil. Logo no começo da história, ela é surpreendida por Nemesis, um vilão gigantesco, malvado, onipresente e que quer destrui-la a todo custo. Então, ela se encontra com Carlos e os colegas de uma nova divisão da Umbrella (U.B.C.S.), que tem soldados ordenados a impedirem a propagação do vírus (ou melhor, da história da sua origem).
Assim começa a jornada, que tem revelações sobre a origem da pandemia, sacrifícios, traições e, claro, momentos em que você percebe a relação entre RE3 e RE2. Não daremos spoilers, porque muita gente pode não ter jogado o game original – e também porque há algumas mudanças interessantes até mesmo para quem curtiu o jogo de 1999.
A cronologia é simples: assim que Jill chega à segunda batalha com Nemesis em RE3, Claire e Leon estão chegando à cidade em RE2. Um dia se passa após esses acontecimentos, a história toda de RE2 se desenrola e os protagonistas conseguem sair de Raccoon a bordo de um trem da Umbrella. Só depois disso voltamos para RE3, com Carlos ajudando Jill após o duelo com o monstrão.
Vale destacar que alguns dos momentos clássicos do original estão ainda mais memoráveis. A sequência na sede da RPD, o hospital, o final. As adaptações agradam. Tudo o que está no novo jogo foi muito bem feito. A grande questão é que tem coisas que não estão. E isso deverá – ou melhor, com certeza irá – irritar alguns dos fãs mais hardcore da franquia.
Afinal, foram retiradas coisas marcantes do clássico, mas no geral o resultado é bastante satisfatório. Tanto para quem jogou lá nos anos 90, como para os novatos que só agora estão conhecendo a história de Raccoon City. PS: quando terminar a história, fique atento, porque existe uma rápida cena pós-créditos…
Velhos conhecidos ainda mais bonitos (ou feios?)
O bacana desse novo Resident Evil 3 é que ele mantém as principais características da série, além de fazer melhorias no que já dá certo. Tanto graficamente quanto em termos de jogabilidade. Visualmente, a ambientação da cidade é incrível, e os modelos dos personagens também merecem elogios. Corpo, rosto, cabelos… Tudo perfeito.
A construção de Nemesis, então, em suas mais variadas formas, é espetacular. Além de assustador por aparecer em todos os locais (até quando você menos espera) e ser praticamente indestrutível, o design do vilão mais famoso da série é um show à parte. Cada detalhe é impressionante. Tanto no visual como no combate.
Se você achou que o Mr. X era um adversário chato, espere até ver o vilão de Resident Evil 3 em sua “forma atualizada”. Ou melhor, em suas “formas atualizadas”. Sabe aquele áudio do Cristiano Ronaldo? O tal do Nemesis também é um monstro, uma besta enjaulada com ódio, que não para. Nunca! As batalhas contra ele são épicas. E, na maioria das vezes, ele vence, vence e vence.
Se você jogou o Resident Evil 3 de 1999, vai curtir os novos modelos dos seus velhos conhecidos. Se jogou o último Resident Evil 2, já no PlayStation 4, também vai notar algumas referências. E se é fã da série, vai entender exatamente as mudanças/melhorias feitas e o que o jogo traz das características clássicas da franquia.
A pouca quantidade de munição e a necessidade de escolher bem seu inventário, os itens escondidos, puzzles em que é preciso ter atenção e, claro, os duelos com os zumbis. Tudo com uma ambientação perfeita de Raccoon City. E isso faz com que a nova versão de RE3 consiga potencializar o que o clássico tinha como pontos fortes. Porém, é inevitável a comparação com o novo RE2 também.
Mas já?
É como se você estivesse jogando uma outra campanha de Resident Evil 2. Além de Claire e Leon, agora Jill. Só que com alguns inimigos bem diferentes, como os Hunters e o próprio Nemesis. A história por trás é, basicamente, a mesma. A jogabilidade idem. Isso é bom para manter a continuidade, tanto de enredo quanto de gameplay, mas também deixa um gostinho de quero mais.
Especialmente porque a campanha é extremamente curta. Se você jogar no modo fácil, não deve levar mais do que 4 horas. No padrão, cerca de 5 ou 6. No difícil, irá zerar em menos de 10. É claro, há colecionáveis, desafios, etc. Mas, ainda assim, está longe de proporcionar a diversão que seu antecessor podia, com duas campanhas de cada personagem.
O próprio fato de o “poder de escolha”, que foi uma inovação bacana do RE 3 original, torna a campanha 100% linear e faz com que não haja muitas surpresas na narrativa. O game de 1999 também era curtinho, então isso já poderia ser esperado, mas ainda assim é preciso destacar essa questão negativamente.
Parece haver menos desafios, os puzzles são mais simples e a experiência em si é menos assustadora e divertida do que em RE2. Só nos combates que o novo título é mais intenso, especialmente nas dificuldades mais elevadas. De resto, é mais do mesmo – ou até “menos”. Como no fato de controlar dois personagens. Você até joga com Carlos e Jill, mas isso nem se compara à aventura de Leon e Claire.
O que vai definir o seu tempo de conclusão do jogo, mais do que o nível de dificuldade e do quão rápido você soluciona os enigmas, é a sua destreza contra o Nemesis. Há algumas batalhas contra ele que são bem complicadas. Em outras, é só sair correndo e tudo certo. Porém, o monstrão é chato demais quando não há outra alternativa senão bater de frente com ele. Mas, de qualquer forma, é muito pouco conteúdo para um game completo.
E mesmo Resident Evil Resistance, stand-alone multiplayer disponibilizado junto com RE3, apesar de divertido (leia o review completo aqui), não é lá grandes coisas. Nada que faça suas horas se multiplicarem e o investimento de um preço de lançamento cheio ser válido.
Resident Evil 3: vale a pena, mas…
No fim das contas, não tem como dizer que você não deve jogar Resident Evil 3. Claro que deve. Especialmente se teve a oportunidade de jogar o 2 nessa “nova fase” da franquia. É um complemento perfeito. Graficamente estonteante, com a jogabilidade clássica da série e um vilão desafiador como poucos na história dos games.
Contudo, ele custa R$ 279,90 no varejo, e você pagará isso tudo por um jogo que vai acabar rápido e tem pouco fator replay. Para quem não se importa com isso e/ou é muito fã da série, sem problemas. Mas para o “jogador comum”, sem dúvidas vale esperar o preço cair um pouquinho – como muita gente já fez com RE 2, mesmo ele tendo bem mais conteúdo.
Finanças à parte, Resident Evil 3 é mais um exemplo de ótimo trabalho de reimaginação de um título clássico dos anos 90 para o PS4. Crash, Spyro, RE 2, Shadow of the Colossus, em breve Final Fantasy VII… É claro que o que mais marcou a geração foram os incríveis exclusivos de PlayStation, mas logo em seguida está “a volta dos que não foram”.
A Capcom está de parabéns pelo trabalho. Resta saber se haverá uma sequência nesse trabalho com a série, talvez com Code: Veronica ganhando uma nova versão, ou se o próximo título será, digamos, Resident Evil 8 – já que o 7, apesar de um misto de reações iniciais (especialmente dos fãs da franquia), foi um sucesso.
Qualquer que seja o caminho, após seus últimos hits, parece garantido que a empresa vai acertar.
Veredito
Vantagens
- Trabalho visual digno do final da geração
- Variedade de inimigos e combates intensos
- Elementos tradicionais da série são mantidos
- Jogabilidade excelente e fácil de pegar
- Adaptação dos momentos clássicos de RE3
Desvantagens
- Campanha totalmente linear e muito curta
- Poucas inovações em relação ao antecessor